terça-feira, 15 de agosto de 2023

Crítica: As Oito Montanhas (2023)


Dirigido por Felix Van Groeningen (de Alabama Monroe e Querido Menino) em parceria com sua esposa e também cineasta Charlotte Vandermeersch, As Oito Montanhas (Le Otto Montagne) é uma verdadeira ode à amizade e aos laços que formamos durante a vida e que perduram através do tempo e da distância, e chegou a se sagrar como vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes do ano passado.


A trama acompanha Pietro (Lupo Barbiero) e Bruno (Cristiano Sassella), dois meninos na fase da pré-adolescência que se conhecem e formam uma amizade forte e incondicional, apesar de virem de realidades bem distintas. Pietro é uma menino quieto e pouco sociável que mora na cidade grande, e vai passar alguns dias com a mãe em uma casa que eles alugaram nas montanhas dos Alpes, no noroeste italiano. Já Bruno é "montanhês" de nascença, nunca visitou a cidade, e tem nessas formações rochosas o seu espaço natural, onde passa os dias ajudando a mãe nos afazeres com os animais e na fabricação de queijo. De comum os dois tem apenas uma coisa: o distanciamento emocional na relação com o pai.

Essa diferença social não impediu que os dois se conectassem de maneira irreversível, e o filme nos mostra essa relação ao longo de três décadas. No entanto, os dois ficaram sem se ver por cerca de vinte anos devido a distância e também às próprias consequências naturais da vida, mas quando o reencontro acontece, sem nenhuma pompa ou cerimônia, percebemos que há laços que o tempo não destrói. Unidos por uma causa pessoal (a construção de uma casa inacabada pelo pai de Pietro em um dos pontos mais altos da montanha), Pietro (agora interpretado por Luca Marinelli) e Bruno (agora interpretado por Alessandro Borghi) passam a trabalhar juntos neste projeto,  fortalecendo ainda mais a relação enquanto misturam experiências e anseios de vida.


Gostei como o filme não derrapa em nenhum sentimentalismo barato, e mostra tudo com muita naturalidade, trazendo excelentes reflexões. Além da amizade entre os dois, o roteiro aborda temas como a relação entre pais e filhos, a passagem do tempo e o modo como nossas vidas são maleáveis diante dela, e também a forma como nós da cidade enxergamos a relação com a natureza. A fotografia é encantadora, e diria que é o ponto alto do filme, mas senti que o roteiro carece um pouco de ritmo, e em certos momentos a longa duração acaba não sendo justificada com uma montagem pouco atrativa.


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