terça-feira, 8 de agosto de 2023

Crítica: Blue Jean (2023)


Marcando a estreia da diretora britânica Georgia Oakley, Blue Jean é um filme sensível e poderoso que retrata um período de repressão agressiva e covarde contra os homossexuais na Inglaterra do final dos anos 1980, comandada pela conservadora Margaret Thatcher, e que infelizmente ainda tem muitas semelhanças com coisas que a gente vê em pleno 2023.


A trama acompanha Jean (Rosy McEwen), uma professora de educação física do ensino médio que leva uma vida bastante discreta no ambiente de trabalho, mas que nas horas vagas costuma sair a noite com um grupo de amigas lésbicas para beber, ouvir música e jogar sinuca. Ela também mantém um relacionamento casual mas afetuoso com Viv (Kerrie Hayes), que por sua vez é o extremo oposto dela, sendo bastante incisiva quando o assunto é política e direito dos homossexuais. É bom situar que o filme se passa em meio a implementação da "Cláusula 28" em 1988, que proibia que a homossexualidade fosse vista como algo positivo nas escolas, além de incitar como algo anormal, abominável e "destruidor da família tradicional"

Jean tentava esconder a todo custo a sua orientação sexual principalmente por medo de perder o emprego, já que tanto a diretora da escola como a grande maioria dos colegas professores apoiavam explicitamente as ideias homofóbicas da primeira-ministra, e certamente fariam de tudo para expulsá-la caso descobrissem. De repente entra na escola uma nova aluna, Lois, (Lucy Halliday), que em plena adolescência vive os conflitos internos a respeito da sua própria sexualidade e não tem nenhuma referência para lhe ajudar a entender isso. Além de sofrer bullying das demais colegas por ser introspectiva, ela também é chamada "pejorativamente" de lésbica pelas demais meninas, que a afastam e a veem até mesmo como uma ameaça, o que aumenta ainda mais seu sentimento de isolamento e não pertencimento. Ela passa então a enxergar Jane como a única pessoa que a compreende e que pode lhe acolher.


O ponto alto é a atuação de Rosy McEwen, que brilha ao carregar nos olhos da personagem toda angústia de alguém que precisa viver uma vida dupla. Melancólica na maior parte do tempo, Jean é o retrato de uma parcela da sociedade que precisou ficar muito tempo (e em alguns lugares ainda fica) escondida, dentro do armário, com muito medo. O tom do filme se mantém pesado do início ao fim, até mesmo em cenas que teoricamente seriam mais leves como no momento em que Jean brinca com seu sobrinho e tem um pequeno surto de raiva, ou ainda quando ela e Vivi estão tendo relações sexuais e, emblematicamente, sempre são interrompidas por algum motivo externo ou até mesmo interno. O desgaste emocional de ser viver dessa forma é muito bem abordado, e gostei muito como em nenhum momento o filme apela para o dramalhão e muito menos nos faz sentir pena de Jean ou algo do tipo.

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