segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Crítica: El Conde (2023)


Minha relação com o cinema de Pablo Larraín é bastante controversa. Gosto muito de "No" e tenho simpatia por "Jackie" e "Spencer", mas por outro lado detestei "Ema" e "El Club". Apesar da inconstância, é um cineasta que sempre chama a minha atenção quando lança algo novo, e com El Conde não poderia ser diferente, até pela sua premissa no mínimo inusitada. Conhecido por suas críticas a respeito da política e da sociedade chilena, Larraín lança agora aquela que, sem dúvidas, é a mais escrachada de todas, onde nos apresenta uma das figuras mais odiosas da história recente, Augusto Pinochet, em forma de vampiro e sedento por corações humanos.


Na trama, Pinochet (Jaime Vadell) é um vampiro bicentenário, que está na Terra desde os tempos da Revolução Francesa, onde era soldado do reino e apaixonado por Maria Antonieta. Com o decorrer do tempo, e a queda da monarquia, veio parar em terras sul americanas, onde resolveu espalhar sua maldade se tornando general, e logo após, um ditador sanguinário (o trocadilho perfeito neste caso). Decepcionado por ter feito tanto pela população chilena (segundo ele mesmo, é claro) e ainda assim ser desprezado e tratado como um ladrão ("assassino sim, ladrão jamais" grita o general), ele quer abrir mão de sua imortalidade, e para isso deixa de beber sangue humano, que é o que lhe dá vida.

Com diferentes propósitos em jogo, a esposa e os filhos se reúnem na velha mansão de Pinochet para discutirem sobre esse desejo de morrer do patriarca. Em uma conspiração para ficar com a herança, os filhos chamam a freira Carmencita (Paula Luchsinger), que finge ser uma contadora que estaria no local para analisar as contas da família, mas que tem outro plano por trás desta visita. Cheio de simbolismos, e com uma narração onipresente, o roteiro até começa interessante e promissor, mas vai aos poucos desgastando. Quando Larraín decide deixar um pouco de lado a figura central do filme para focar nestes personagens secundários, a sensação que fica é de que o filme se perde de vez. Até mesmo a inserção de outra figura historicamente repugnante como vampira acaba não sendo bem aproveitada, e a crítica no final acaba sendo rasa e sem propósito.


A fotografia em preto e branco (belíssima, por sinal) ajuda a criar o clima gótico que o diretor buscava, e em algumas cenas realmente funciona muito bem. Mais do que uma sátira ácida sobre um homem que, por si só, já poderia ser considerado um "monstro", o filme também tem uma aura de filme de terror clássico, e algumas cenas que lembram até mesmo filmes "trash" de horror. A grande sátira contida na história é óbvia e simples de entender (apesar do filme insistir em ser o mais didático possível a todo momento): Pinochet, mesmo após sua morte em 2006, ainda segue "vivo" por todas as atrocidades que cometeu, pois assim como vampiros que nunca morrem, os crimes de ditadores como ele, que por sinal jamais enfrentou a justiça por eles, vão viver para sempre na memória do povo.

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