segunda-feira, 15 de julho de 2024

Crítica: MaXXXine (2024)

 

Lançado em 2022, X - A Marca da Morte foi um grande sopro de originalidade no cinema de terror contemporâneo, e imediatamente conquistou o público e a crítica. Naquele mesmo ano, o diretor Ti West lançava também uma prequel intitulada Pearl, que contava a história da vilã do filme anterior quando ela ainda era jovem, e que por sua vez teve um resultado ainda melhor graças, sobretudo, à atuação exuberante de Mia Goth. Dois anos se passaram e muitas expectativas foram criadas em torno de um terceiro filme deste universo, intitulado MaXXXine, que trata-se de uma sequência do primeiro filme, e conta a história da única sobrevivente do massacre que ocorreu com um grupo que estava realizando um filme pornô em uma fazenda do Texas: Maxine Minx.

MaXXXine inicia com uma  citação da lenda do cinema Bette Davis, que basicamente diz que no ramo de atriz, se você não for conhecida como um monstro, você não é considerada uma estrela. Dá para dizer que esta frase dita o teor da crítica que Ti West tenta trazer a respeito da forma como Hollywood sempre tratou atores e atrizes que tentavam conquistar o seu espaço de maneira honesta, ceifando uma quantidade incontável de sonhos sem dó. Logo, somos iniciados com um monólogo impactante de Maxine (Mia Goth), que seis anos depois dos acontecimentos trágicos de X, está fazendo um teste para um promissor filme de terror, dirigido por Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki, conhecida recentemente por interpretar a princesa Diana na série The Crown). Com um sucesso já consolidado no ramo dos filmes adultos, Maxine agora quer alcançar novos rumos na carreira, e vê no terror a possibilidade de ir longe e finalmente virar a estrela que tanto sonhou a vida inteira.

Neste mesmo período, Los Angeles enfrentava dois problemas distintos mas igualmente nocivos: o primeiro era a crescente onda de puritanismo cultural pautada em fundamentos religiosos, que enxergava a presença do "demônio" em filmes, séries, programas de televisão e músicas, e que queria a todo custo barrar essas produções. A segunda era a presença de um serial killer conhecido como Night Stalker (que realmente existiu na vida real), que estava fazendo muitas vítimas naquela época e tomando conta dos noticiários, o que deixou a cidade inteira assustada e em alerta. O suspense a respeito deste assassino  acaba se cruzando com história da protagonista, principalmente quando ela passa a ver pessoas do seu círculo social serem mortas, incluindo atrizes do estúdio que ela está trabalhando e até mesmo seu melhor amigo e dono de uma locadora de vídeos adultos. As coisas começam a sair ainda mais do rumo quando Maxine passa a ser perseguida por um detetive misterioso (interpretado brilhantemente por Kevin Bacon), ao mesmo tempo em que vira alvo de dois policiais que enxergaram alguma relação dela com os assassinatos.

A ambientação dos anos 1980 é incrível, e certamente é o ponto positivo do filme, e isso vai desde o cuidado com as imagens e os cenários até a trilha sonora new wave. É realmente um trabalho muito caprichado e imersivo. No entanto, quando falamos de roteiro e montagem, as coisas começam a decair. Se nos primeiros filmes nós tínhamos histórias bem definidas e diretas, em MaXXXine nós temos várias subtramas que ocorrem entre uma e outra, e confesso que achei a maioria delas muito mal exploradas. O roteiro parece se pautar em referências a filmes clássicos, e até aí não vejo problema algum, desde que faça sentido. Aqui, para mim, muita coisa não fez. Só para citar um exemplo, o motel de Psicose e consequentemente a casa onde Norman Bates mantinha sua mãe morta no clássico de Hitchcock, acabou sendo apenas um chamativo para ter mais views no trailer e chamar a atenção para o filme, pois na trama é uma adição realmente desnecessária.


Outro ponto que acho importante falar é que, diferentemente de Pearl, aqui em MaXXXine Mia Goth não tem tantas exigências, até por não se tratar da mesma personagem carismática e intensa do filme anterior, e sua atuação acaba sendo ofuscada pelo elenco de coadjuvantes, em um filme que teoricamente era para ser dela. Não que a atriz esteja mal, pelo contrário, creio que ela seja um dos melhores achados recentes no cinema, mas de fato ela não consegue o mesmo destaque que conseguiu anteriormente. E por fim, não posso deixar de falar do final, que foi definitivamente onde o filme me perdeu. Claro que não vou dar spoiler, mas a reviravolta envolvendo uma figura do passado de Maxine me deixou muito revoltado, e até mesmo incrédulo com a alternativa escolhida pelo diretor para concluir o arco. Por isso mesmo, MaXXXine acaba sendo, de longe, o filme mais fraco entre os três, mesmo tendo um momento ou outro de solidez. Uma decepção do tamanho da expectativa criada.

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