segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Crítica: Philomena (2014)


Apesar de ser taxado como comédia e contar com algumas cenas realmente engraçadas, Philomena (Philomena) é um filme bastante triste, sobretudo por se tratar de uma história real. A forma sensível com que é mostrado, no entanto, faz com que acabe sendo um filme leve e agradável de assistir, e uma das grandes surpresas do ano.


Philomena Lee (Julie Dench) é uma senhorinha irlandesa muito religiosa, que apesar de parecer ingênua, é esperta, faladeira, e sincera até demais. Quando tinha 17 anos, em uma feira ao ar livre, Philomena se deixou levar pelo desejo ao conhecer um belo jovem, e o ato trouxe como consequência um filho nove meses depois. Acolhida em um convento, foi separada da criança logo que ela nasceu, tendo restrita suas visitas para ver o mesmo como punição pelo seu pecado.

No passado (e até hoje, se duvidar), era comum a igreja católica levar seus seguidores no cabresto, delegando punições severas para aqueles que cometessem atos pecaminosos. O convento Abadia de San Ross, já no século 20, ainda seguia essa lógica. Abrigando mulheres solteiras grávidas, elas faziam o parto e cuidavam das crianças, enquanto as mães deveriam trabalhar para elas como escravas para pagar o "acolhimento".


As crianças, porém, eram disponibilizadas para adoção mesmo sem o consentimento das mães, que para evitar isso deveriam pagar 100 libras (o que nenhuma tinha consigo, é claro). Nesse ínterim, o filho de Philomena acabou sendo levado por uma família de americanos, para desespero da mesma.

O sentimento comum nesse tipo de situação seria o ódio, principalmente contra as freiras do local. Qualquer agiria dessa maneira. Porém, religiosa fervorosa, Philomena acredita que tudo isso serviu como castigo para seu pecado, e não as culpa por isso. Pior do que isso, acredita que mereceu tudo pelo qual passou.


Em 2004, a história da busca pelo filho perdido caiu nas mãos do repórter Martin Sixsmith (Steve Coogan), que vivia uma crise profissional após alguns problemas na carreira. Ele abraçou a causa e decidiu ajudá-la, custasse o que custasse. Juntos, eles acabam descobrindo coisas impressionantes sobre o paradeiro do filho, desde sua opção sexual até sua carreira de sucesso na política.

A personalidade de Philomena é curiosa, e contrasta com a de Martin. Enquanto ela é uma católica praticante, ele é um ateu convicto, e essa discussão religiosa acaba sendo uma das partes mais bacanas do longa. Frears fez um filme explicitamente anti-clerical, e por isso mesmo, está gerando polêmica atrás de polêmica. Mas afinal de contas, que Deus bondoso é esse que usa de sua onipotência para fazer as pessoas sofrerem por simplesmente quererem algum prazer na vida? 


As atuações são excelentes, e a indicação de Dench para o Óscar é merecida. A ambientação da época também é impecável, assim como a trilha sonora. Philomena pode até não ter chances de levar o Óscar de melhor filme, mas isso nunca serviu como parâmetro para dizer se um filme é bom ou não. O fato é que se trata de uma história dolorosa, mas ainda assim imperdível.


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