terça-feira, 17 de março de 2015

Crítica: A Gangue (2015)


Quando temos a certeza de que o cinema já contou todas as histórias e de todas as formas possíveis, eis que nos surpreendemos com algo nunca antes imaginado, provando mais uma vez as infinitas possibilidades que a sétima arte possui. 



A Gangue (The Tribe), do ucraniano Myroslav Slaboshpytskiy, conta a história de um garoto surdo-mudo (Grigoriy Fesenko) recém chegado num internato especializado em alunos com a sua deficiência. Ele logo é recebido com hostilidade pelos veteranos, mas aos poucos passa a se inserir na dinâmica dos colegas, muitos deles envolvidos com crimes e até mesmo com a prostituição. O local também se mostra muito menos hospitaleiro do que parece, com seus ambientes sujos e mal cuidados, o  que ajuda a criar o clima de frieza, que é a grande característica do filme.

Mas afinal, o que faz essa obra ser tão diferente assim de qualquer outra? Apesar do enredo aparentemente simples, ele possui uma grande peculiaridade: o filme não possui diálogos, pois todo o elenco é constituído de atores surdos-mudos. Isso mesmo que você está pensando: toda as "falas" do filme são mostradas através da linguagem de sinais, e mais do que isso, sem nenhuma legenda.



Havia um receio, no princípio, de que o filme talvez não conseguisse passar ao público leigo em libras o que ele realmente queria, mas a abordagem do diretor é tão bem feita que isso acaba sendo mais fácil do que se imaginava. Claro, não dá para entender explicitamente o que eles falam entre si, mas conseguimos entender tudo aquilo que precisamos através das imagens. E sem se tornar massante, o que é o grande mérito do enredo.

Por falar no enredo, ele possui cenas realmente inquietantes e duras de assistir. A violência e o sexo são mostrados sem nenhum pudor, assim como a prostituição infantil e até mesmo o aborto, temas que não são bem quistos no cinema comercial. Os personagens não tem nomes, e a música é totalmente ausente, dando lugar apenas ao som ambiente. No final do filme (que aliás, é arrebatador) a gente percebe que, no fim, as palavras talvez só estragassem a grande essência que o silêncio conseguiu passar. Cada vez que um filme original como esse é lançado, temos a certeza de que o cinema subiu mais um degrau.


Nenhum comentário:

Postar um comentário