quinta-feira, 19 de março de 2015

Crítica: Mommy (2014)


O canadense Xavier Dolan deixou de ser uma promessa há muito tempo para se tornar uma realidade. Com apenas 26 anos ele já possui um currículo invejável, cheio de premiações e uma vasta admiração da crítica e do público. Pois com Mommy ele parece ter atingido o ápice de sua carreira até então, mostrando mais uma vez a relação entre mãe e filho, já abordada por ele em pelo menos três de suas obras anteriores, mas nunca de forma tão arrebatadora.



Steve (Antoine-Olivier Pilon) é um garoto inconsequente e agressivo que vive num centro de correção para adolescentes com problemas de comportamento. Depois de causar um incêndio no local ele acaba sendo expulso, e sua mãe Diane (Anne Dorval) o leva para morar junto com ela na sua nova casa. A princípio, a relação entre mãe e filho choca pela contradição; num momento estão brigando e se xingando da pior forma possível, para logo depois de elogiarem e trocarem carinho.

Diane mostra no começo uma firmeza impressionante para lidar com os problemas, mas a medida que o tempo passa, vamos percebendo sua enorme fragilidade. Aliás, esse é um dos pontos fortes dos filmes de Dolan, adentrar fundo na personalidade dos personagens, abordando todos os seus medos, receios e ressentimentos de forma detalhista. Graças a isso, conseguimos entender o porque de cada um ser da forma que é no presente.



Viúva e desempregada, Diane passa os dias tentando encontrar um emprego enquanto faz de tudo para evitar que o filho faça alguma coisa que o leve definitivamente a detenção. Logo entra em cena a figura de Kyla (Suzanne Clément), a vizinha que mora do outro lado da rua, que passa a cuidar de Steve enquanto a mãe faz alguns bicos para se sustentar. Aos poucos, Kyla vai se tornando peça chave nessa estrutura familiar, trazendo um certo equilíbrio e a esperança de um futuro melhor.

O enredo é muito bem construído, com trilha sonora e fotografia impecáveis. Aliás, a tela reduzida (apenas um quadrado no meio durante todo o filme, exceto em duas cenas) é um ingrediente a mais, como se Dolan quisesse prender nossa atenção ao centro da imagem e ao que realmente importa. As atuações por sua vez são de tirar o fôlego. Antoine-Olivier Pilon simplesmente extrapola o limite de uma boa atuação e faz um papel brilhante. Anne Dorval também impressiona, e está perfeita na pele dessa mãe multifacetada e diferente de qualquer outra já vista nas telas. Não dá para esquecer ainda de Suzanne Clément, que dá um toque especial na trama depois de sua entrada.


Com um final angustiante, Mommy é sem sombra de dúvidas um dos melhores filmes de 2014. Recheado de cenas emblemáticas, que certamente ficarão na minha cabeça para sempre, o filme mexeu comigo como poucos, tanto que demorei para perceber que os créditos haviam terminado após o final. Obra-prima!


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