domingo, 10 de maio de 2015

Recomendação de Filme #56

Minha Vida Sem Minhas Mães - Klaus Haro (2005)

O cinema finlandês é conhecido por sua frieza na hora de contar histórias, e mesmo sendo o centro cinematográfico mais modesto entre os países nórdicos, é talvez o melhor dentre eles. Entre suas obras de maior qualidade uma se destaca em especial: Minha Vida Sem Minhas Mães (Aideista Parhain), de Klaus Haro, que num dia especial como hoje, dia das mães, é a oportuna recomendação da vez.


A narrativa aborda um episódio trágico que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, e que até então era pouco conhecido. Durante a ocupação nazista, mais de 70 mil crianças finlandesas foram enviadas para um espaço neutro na Suécia, sendo acolhidas por famílias voluntárias que iriam adotá-las e ficar com elas até o fim dos conflitos. Entre essas crianças estava Eero (Topi Majaniemi), um menino de nove anos.

No novo país, Eero é recebido por um jovem casal. O novo ambiente e principalmente a nova rotina alteram drasticamente a vida do garoto, que no princípio não sabe nem falar a mesma língua que os donos da casa. Além disso, Signe (Maria Lundqvist), a sua "nova mãe", não aceita bem sua chegada pois estava esperando ansiosamente por uma menina.


A relação de Eero e Signe no começo é bastante conturbada. A mulher é uma verdadeira muralha de sentimentos e não consegue abrir mão disso para cuidar do menino. Ele por sua vez começa a tratá-la mal, nutrindo dentro de si uma mistura de saudade de casa com o sentimento de não ser bem vindo no lugar onde está. Com o tempo, no entanto, os dois vão se aproximando.

Ao longo do filme é possível criar uma forte empatia com a personagem de Signe, que no começo chega a ser odiável. O passado, mostrado em flashbacks, nos faz compreender melhor o motivo dela ser tão fechada em si mesma, e quando a verdade vem à tona, dói junto no espectador. Ao mesmo tempo, a história de Eero antes de sair de casa também é revelada, e enxergamos motivos suficientes para entendermos o porquê dele ser tão desconfiado e arredio.


O enredo do filme trata com primor, e sem ser apelativo, o doloroso impacto de uma guerra na vida das pessoas, principalmente das crianças. Mas acima de tudo mostra como o amor verdadeiro pode vir muitas vezes das pessoas que menos esperamos e nas situações mais adversas. O final é inesquecível, e deixa um nó na garganta difícil de desarmar. A trilha sonora também é épica, mas o mais impressionante de tudo ainda é ver o garoto Topi Majaniemi em cena, sem dúvida uma das maiores atuações infantis que já vi no cinema.

Delicado e singular, o filme de Klaus Haro é uma joia rara do cinema europeu, e merece ser mais conhecido. Recebeu 11 prêmios internacionais no ano do lançamento, e chegou a ser apresentado na Mostra de Cinema de São Paulo, mas jamais foi lançado comercialmente nos cinemas daqui, somente em DVD. Se tiverem a oportunidade de assistí-lo, não percam, pois vale cada segundo.


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