segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Crítica: Victoria (2015)


Filmes feitos em plano-sequência são o mais perto que o cinema pode chegar do teatro. Apesar de não ser utilizado com tanta frequência, há muitos anos que diretores vem tentando usar essa técnica, e isso só foi possível depois que os rolos de filmes passaram a suportar grandes durações. Pois em 2015 o alemão Sebastian Schipper soube reutilizá-la com muita competência em Victoria, seu segundo filme da carreira.


Victoria (Laia Costa) é uma jovem de Madri que está vivendo em Berlim, e que aparentemente não conhece ninguém na cidade. Na saída de uma boate ela conhece um grupo de rapazes que está circulando pela cidade na busca de diversão, e logo passa a andar com eles. Tomada por uma intensidade de sentimentos, Victoria logo se vê envolvida nos negócios ilícitos do bando, incluindo a estratégia de roubar um banco.

A história em si não traz nada de especial, mas o que diferencia o filme de tantos outros é a maneira como ele é contado. O enredo nos mostra a noite estranha e inesperada de Victoria em apenas um take, como se tudo ocorresse em tempo real. A primeira meia hora é composta apenas de conversas entre Victoria e o grupo de amigos sobre trivialidades da vida, o que ajuda a desenvolver cada um dos personagens apresentados de uma maneira extremamente natural. Sonne (Frederick Lau) é o "cabeça" do grupo, e é quem se aproxima mais de Victoria. Fuss (Max Mauff) está comemorando seu aniversário completamente bêbado e irracional, mas Blinker (Burak Yigit) se mostra o mais inconsequente de todos. Tem ainda Boxer (Franz Rogowski), um ex-presidiário que parece ter pavio curto.


A trama começa a ganhar forma quando Boxer precisa encontrar um antigo colega de prisão, para quem ele está devendo um grande favor. O homem exige então que Boxer e os companheiros pratiquem um roubo a banco para pagar a dívida, e eles se vêem obrigados a seguir o plano para assegurar suas próprias vidas. O roubo ocorre como planejado, mas as consequências se tornam bem piores do que eles imaginavam.

O filme não tem um final determinado, pois a câmera simplesmente vai deixando de seguir Victoria até aparecerem os créditos. Isso de forma alguma estraga o resultado final, pelo contrário, já que a sensação que fica é a de que poderíamos seguir Victoria por muito mais tempo. Não espere uma fotografia exemplar, já que a câmera é manuseada o tempo todo na mão. Isso é característica de filmes como esse, e serve para dar mais realidade a tudo que vemos em cena, como se fossemos uma testemunha onipresente da história.


Por fim, Victoria é um grande achado do cinema alemão este ano, e mereceu todos os elogios eufóricos que recebeu no último Festival de Berlim. As atuações são excelentes e boa parte dos diálogos, principalmente no início do filme, são improvisados, o que aumenta ainda mais o brilhantismo de tudo.

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