segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Crítica: A Febre (2020)


Grande vencedor do último Festival de Brasília, A Febre marca a estreia da diretora carioca Maya Da-Rin no mundo dos longa-metragens. Filmado quase inteiramente em um dialeto indígena da Amazônia, o enredo se passa em Manaus e acompanha Justino (Regis Murupi), um indígena que deixou sua aldeia há anos para viver na cidade grande, e hoje trabalha como segurança no porto de cargas da capital amazonense.


 

Desde a morte de sua esposa, Justino vive apenas com sua filha Vanessa (Rosa Peixoto), que é enfermeira em um posto de saúde da região e acaba de ser aprovada para estudar medicina na Universidade de Brasília. Essa saída da filha de casa para um lugar distante deixa Justino um pouco perdido quanto ao seu futuro, mesmo que esteja feliz pela filha conseguir realizar um grande sonho.

O longa é um pequeno retrato de como vivem os povos indígenas nos dias de hoje, inseridos na civilização "branca" mas tentando manter suas tradições e sua cultura vivas, mesmo debaixo de muito preconceito. Alguns momentos me marcaram muito, como a cena em que um colega de Justino chama os índios que vivem em aldeias de "índios de verdade", praticamente invalidando que Justino seja um deles pelo fato dele viver na cidade. Até mesmo familiares de Justino tem um pouco desta visão, de que ao viver na zona urbana ele deixou de fazer parte do seu povo. Essa perda de identidade também é algo que fere Justino e o deixa bastante confuso quanto ao que ele é de verdade.


 
Apesar da surpreendente qualidade técnica, as atuações do filme me pareceram um pouco amadoras. Porém, entendo que talvez seja algo proposital e consciente da direção, para dar um ar mais documental para a obra. É importante frisar que numa época em que os indígenas vem perdendo cada vez mais os seus direitos e suas terras, A Febre se torna um filme necessário por trazer questões importantes a respeito do assunto. Qual é o espaço que o índio tem hoje na nossa realidade, além de viver de subempregos e à margem da sociedade? A gente precisa urgente de mais políticas públicas voltadas a eles, e essa é a lição que fica no final de tudo.
 

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