terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Crítica: Judas e o Messias Negro (2020)


Uma das melhores sensações que existe é a de terminar um filme e ficar olhando os créditos finais totalmente impactado por tudo que acabou de ver. Fazia alguns meses que isso não me ocorria, e aconteceu hoje ao terminar de assistir Judas e o Messias Negro, filme do diretor Shaka King.



Baseado numa história real, o enredo se passa em 1968 e começa acompanhando William O'Neal (Lakeith Stanfield), um ladrão de carros que usa uma estratégia peculiar para atacar suas vítimas: se passar por um agente do FBI. Um dia ele acaba sendo capturado pelo próprio FBI, indo parar nas mãos do agente Roy Mitchell (Jesse Plemons), que lhe dá duas opções: ir para a cadeia por alguns anos ou realizar uma missão como infiltrado no partido dos Panteras Negras em troca da sua liberdade.

Na mesma época, o presidente dos Panteras Negras em Illinois era Fred Hampton (Daniel Kaluuya), um jovem de 21 anos com ideais muito fortes e discursos efusivos. Aos poucos, William vai conquistando seu espaço no grupo e ganhando a confiança do próprio presidente, para quem ele passa a dirigir. Embora o roteiro foque nessa relação entre Fred e William, que como o nome do filme já sugere termina em uma tragédia bíblica, o diretor se preocupa em abordar muitas outras questões. A principal delas talvez seja a forma como o governo dos EUA tratava na época qualquer forma de resistência que surgia, com extrema violência e repressão. É interessante analisar também, que por mais odiosa que tenha sido a atitude de William de aceitar fazer parte desse plano, ele na verdade não passou de mais uma vítima do governo estadunidense, e apenas mais uma peça nesse jogo sujo.



As atuações são fantásticas, com destaque para Kaluuya e Stanfield. O primeiro mostra mais uma vez o porque de ser considerado um dos melhores atores atuais, apresentando um personagem intenso e que é responsável pelas falas mais impactantes do longa (e não são poucas). Já Stanfield consegue transparecer no rosto o quanto seu personagem foi ficando cada vez mais incomodado de estar naquela situação, e o resultado final é fantástico. Trata-se, com certeza, de um dos melhores filmes do ano, não só pela qualidade técnica mas pela força que tem.


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