terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Crítica: Nós Duas (2020)


Representante da França no Oscar 2021 de melhor filme em língua estrangeira, Nós Duas (Deux) é um drama emocionante sobre duas mulheres fortes que precisam esconder seus sentimentos numa sociedade que ainda é coberta de preconceitos e tabus.


Madeleine (Martine Chevallier) e Nina (Barbara Sukowa) são vizinhas, e mantém um relacionamento amoroso em segredo há mais de uma década. Para os familiares elas são apenas grandes amigas, que na solidão da terceira idade fazem companhia uma à outra. Cansadas de viver essa "mentira", elas planejam se mudar para viverem juntas na Itália, porém um infortúnio acaba deixando Madeleine numa cadeira de rodas, tirando totalmente sua independência e dificultando a realização desse sonho.

A primeira parte do filme foca principalmente em Madeleine e na sua relação com a família, que ainda a julga por, aparentemente, não ter sido tão amorosa quanto deveria com o falecido pai de seus filhos. A todo momento "Mado" tenta contar aos filhos sobre a mudança para outro país, mas sempre acaba sendo silenciada por assuntos de "maior relevância" para eles, sem contar, obviamente, do medo que sente da reação deles ao assunto.
 
Na segunda parte, com Madeleine já debilitada por um AVC, o foco muda para Nina, que tenta manter contato a todo custo com o seu grande amor, que agora está sendo acompanhada 24h por dia por uma cuidadora. Gostei muito da forma que o diretor Fillippo Meneghetti aborda essa parte, usando até mesmo de uma certa comicidade nas partes onde Nina tenta se esconder da cuidadora para ficar perto de Madeleine. Logo, no entanto, o cômico vira drama, já que é impossível não nos colocarmos na pele dela e de alguém que enfrenta tudo e todos só para estar próximo de quem ama.

 

Amor e libido na terceira idade ainda são de fato um tabu, e quando se fala na orientação sexual das personagens, esse tabu se torna ainda mais forte. Com ótimas atuações das atrizes e um bom desenvolvimento do enredo, Nós Duas me surpreendeu positivamente e já é para mim um dos melhores filmes do ano.
 

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