sábado, 6 de novembro de 2021

Crítica: Marighella (2021)


Depois de dois anos sofrendo com inúmeros adiamentos burocráticos, finalmente chegou aos cinemas brasileiros o longa Marighella, que marca a estreia de Wagner Moura na direção e conta a história de Carlos Marighella, revolucionário que liderou a luta armada contra a ditadura no Brasil.


O filme se passa basicamente entre os anos 1964 e 1969, quando a ditadura havia acabado de ser instaurada e o país vivia um dos seus períodos históricos mais conturbados. Neste cenário surge Marighella (Seu Jorge), um político comunista e cofundador da ALN (Aliança Libertadora Nacional). Por conta de suas ações violentas de enfrentamento ao regime, Marighella chegou a ser considerado o inimigo número um do governo militar, sofrendo com perseguições até ser assassinado por agentes do DOPS em uma emboscada (isso não é spoiler, ok, já que a história todos já conhecem ou deveriam conhecer).

Gostei muito do ritmo do filme, que não deixa a história se tornar cansativa mesmo com suas 2h30 de duração. O roteiro tem boas cenas em plano sequência, como por exemplo a que abre o filme, e carrega um clima de tensão o tempo inteiro. As idas e voltas no tempo também são fáceis de acompanhar graças a ótima montagem, que mostra tanto o lado guerrilheiro de Marighella como o lado pessoal e familiar. Outro fato que chamou muito a minha atenção é a excelente ambientação da época, além, é claro, do elenco super afiado. Além de Seu Jorge, temos participações marcantes de Bruno Gagliasso, Adriana Esteves, Bella Camero, Humberto Carrão e Luiz Carlos Vasconcelos.


Numa cena pós crédito temos um momento bastante catártico, que passa a importante mensagem de que a "pátria amada" não é de um grupo ou de outro, mas sim de todos nós. Dá para perceber também, mesmo que de forma muito sucinta, certas críticas indiretas aos dias de hoje, numa forma de mostrar que algumas semelhanças com aquele período não são meras coincidências. Neste tempo de extrema polaridade política em que vivemos, era esperado que o filme causaria polêmicas, e que por consequência seria de um lado abraçado enquanto que do outro seria rechaçado com agressividade. Mas o fato é que, artisticamente, o filme é de uma beleza ímpar, e Wagner Moura tem aqui um debut elogiável.


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