domingo, 21 de novembro de 2021

Crítica: Benedetta (2021)


Lançado no Festival de Cannes deste ano, Benedetta é um filme que já "nasceu"em meio a um série de polêmicas. Baseado no livro "Atos Impuros - A Vida de uma Freira Lésbica na Itália da Renascença", escrito pela historiadora Judith C. Brown, o filme chegou a sofrer com protestos religiosos na época do seu lançamento e ainda promete dar o que falar na medida em que vai chegando aos cinemas do mundo todo.


O enredo conta a história real de Benedetta Carlini (Virginie Efira), que foi levada ainda menina para um convento na cidade italiana de Pescia, depois que seus pais fizeram a promessa de torná-la freira caso ela sobrevivesse ao parto difícil. Benedetta cresceu de maneira tranquila sob as regras rígidas da igreja e sob comando da abadessa do local, Irmã Felicita (Charlotte Rampling), até começar a sofrer com supostos episódios de possessão, visões perturbadoras de Jesus e milagres que resultaram em chagas idênticas às de Cristo espalhadas pelo seu corpo.

Os acontecimentos deixam Benedetta de cama, e ela passa a ser assistida de perto por uma freira que acabou de chegar ao local: Bartolomea (Daphne Patakia). Logo as duas iniciam uma relação que se torna, acima de tudo, um jogo de sedução, que culmina na libertação de desejos reprimidos por parte de ambas. Quando Benedetta ascende na hierarquia do convento e assume o lugar de abadessa, ganhando um quarto só para si e principalmente poder, a relação das duas se estreita ainda mais, mas não demora a cair no conhecimento do alto escalão da igreja, que inicia um julgamento para puni-las da maneira que se puniam hereges na época: a fogueira.


O filme tem cenas realmente polêmicas, que incluem até mesmo símbolos religiosos sendo utilizados como forma de prazer sexual. Porém, se formos falar do roteiro, confesso que algumas coisas me incomodaram no seu desenrolar. Primeiro, as sequências em que Benedetta sonha com Jesus me pareceram fora de tom, e até mesmo desnecessárias. Segundo, achei o início da relação entre Benedetta e Bartolomea bastante superficial e atropelado, sem nenhum desenvolvimento que fizesse realmente crer no sentimento das duas.


O filme cria uma ambiguidade diante da personagem principal, já que em nenhum momento fica claro se ela estaria se ferindo de propósito ou se seria de fato algo relacionado a sua fé e às suas visões. A resposta fica subentendida na cabeça de cada espectador, que avalia de acordo com a sua visão do tema. Gostei bastante da ambientação da época, seja mostrando a forma como a religião ainda ditava as leis e punia os pecados de forma rigorosa, seja na atmosfera de medo e insegurança que a Peste Negra causava na população. Por fim, Benedetta é um filme que podia mostrar muito mais, mas parece ter focado mais na tentativa de causar do que na história em si.

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