segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Crítica: Mussum: O Filmis (2023)


Comediante, sambista e orgulho da dona Malvina. Antônio Carlos Bernardes Gomes, conhecido popularmente como Mussum, foi um dos maiores artistas que este país já teve o prazer de acompanhar, e além do sucesso na música com o conjunto Os Originais do Samba, também ficou marcado por participar de grandes programas da televisão brasileira como A Escolinha do Professor Raimundo, com Chico Anísio, e Os Trapalhões, onde junto com Didi, Dedé e Zacarias fez a alegria da criançada por cerca de duas décadas. Dirigido por Sílvio Guindane, Mussum: O Filmis conta a trajetória do artista desde pequeno, quando vivia com sua mãe em uma comunidade do Rio de Janeiro.


Apaixonado desde cedo por samba, Carlinhos (como carinhosamente era chamado) fazia de tudo para assistir apresentações ao vivo do ritmo, coisa que deixava sua mãe furiosa, já que para ela samba era "coisa de cachaceiro" e ela não queria ver seu filho metido com isso. Empregada doméstica, Malvina se virava como podia para sustentar a casa, e se viu obrigada a colocar o menino em um colégio interno ao não ter mais com quem deixá-lo durante sua jornada de trabalho. Seu sonho era que ele focasse nos estudos e, futuramente, pudesse seguir uma carreira militar, e esse sonho passa muito pelo fato de que a própria Malvina jamais teve chances na vida, sendo inclusive analfabeta, e a última coisa que ela desejava na vida era que seu filho não seguisse os seus passos.

O tempo passa, e Antônio tenta mesclar seu tempo na escola militar com o grupo de samba que formou com os amigos, e que vai conquistando cada vez mais espaços para tocar. Até que em uma das apresentações do grupo para a televisão, ele é chamado para substituir um comediante, e a partir de então sua história muda para sempre. A montagem é muito ágil ao misturar esse passado de Antônio antes da fama com momentos em que ele já está filmando suas esquetes para a televisão, mostrando todos os fatos que moldaram a sua personalidade.

De todos os elementos que construíram a vida e a carreira de Mussum, a sua relação com a mãe é certamente a mais importante, e as melhores cenas do filme envolvem estes dois personagens. Para isso, era importante haver química entre todos os atores envolvidos, e aqui é o que não falta, tanto na fase da infância, com Cacau Protásio e Thawan Lucas interpretando mãe e filho, como na fase já adulta, com Neusa Borges e Airton Graça. Os dois últimos, inclusive, são responsáveis pela cena mais bonita de todo o longa, um recorte emocionante que mostra como funcionava essa dinâmica entre os dois. Há ainda uma participação curta mas muito marcante do comediante Yuri Marçal no papel de Antônio na juventude, época em que o personagem vivia o dilema entre seguir o sonho da mãe ou seguir o próprio sonho. No ato final, acompanhamos a entrada de Mussum no grupo Os Trapalhões, em parceria com Renato Aragão (Gero Camilo), Dedé Santana (Felipe Rocha) e Zacarias (Gustavo Nader), e toda a controversa que culminou no fim do programa, enquanto Mussum precisava lidar também com a doença terminal da mãe.


Ao longo de suas duas horas, o filme ainda conta com a presença de personagens importantes da história do samba e do próprio Brasil, como Cartola, Elza Soares, Jorge Ben, Alcione, Grande Otelo e até Mané Garrincha, e mostra como cada um fez parte, à sua maneira, da vida do artista. Com a dosagem certa entre humor e drama, atuações muito competentes e uma trilha sonora estupenda, Mussum: O Filmis foi o grande destaque no último Festival de Gramado, e eu posso garantir a vocês que vale muito a pena assisti-lo no "cinemis".

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