sábado, 11 de novembro de 2023

Crítica: O Assassino (2023)


Metódico, frio e extremamente calculista. Assim dá para definir o personagem de Michael Fassbender em sua rotina de trabalho. Porém, não se trata de um emprego como qualquer outro, já que ele ganha a vida como assassino de aluguel. Baseado em uma HQ francesa de mesmo nome, O Assassino (The Killer) é o novo filme do veterano David Fincher, em mais uma parceria sua com a Netflix, e tem dividido bastante as opiniões desde sua estreia no serviço de streaming.


O protagonista não tem nome mas ao mesmo tempo tem vários, já que usa dezenas de identidades falsas ao longo da trama para viajar de um lugar a outro sem deixar rastros. No começo do filme ele está em Paris, e acompanhamos todo o processo dele para se posicionar estrategicamente em frente ao apartamento onde sua próxima vítima estará dentro de poucas horas. Enquanto prepara tudo, o personagem fala em uma narração off sobre os seus métodos de trabalho, deixando bem claro a forma perfeccionista com que age. Ele também tem quatro regrinhas básicas que leva como um mantra: nunca improvisar, nunca confiar em ninguém, não ter empatia nenhuma e não fazer absolutamente nada além do que foi pago para fazer. 

Na mesma narração ele também reflete sobre várias questões da vida, o que me fez lembrar um pouco outro filme do diretor, Clube da Luta, e até mesmo o clássico Táxi Driver, de Martin Scorsese, onde o personagem de Robert De Niro também divaga sobre nuances da sociedade da época. Isso serve para apresentar ao espectador um panorama da personalidade e principalmente a visão de mundo do protagonista. Outro filme ao qual este início remete, mas de forma ainda mais explícita, é Janela Indiscreta, do Alfred Hitchcock, já que enquanto espera entediado a aparição do seu alvo, o assassino fica acompanhando as janelas vizinhas como uma espécie de voyeur.


Após cometer um erro incomum, ele foge apressadamente do local, limpa todos os rastros e volta para casa na República Dominicana. Porém, chegando no local, descobre que sua namorada Magdala (Sophie Charlotte) foi violentamente agredida enquanto ele estava fora, e agora ele está disposto a caçar cada um dos responsáveis. E nessa busca, culpados e não culpados acabam pagando o preço. O mais interessante nesta virada de chave do filme é ver que nessa sua jornada de vingança, o assassino passará por muitos testes de empatia, onde a cada cena nós iremos nos perguntar "será que ele vai fazer isso mesmo?", e geralmente sim, ele faz. Chega a ser até engraçado como ele não abandona seu método, seja contra quem for. 

O que me incomodou um pouco no roteiro foi a maneira facilitada com que o personagem consegue ir de um lugar a outro (em poucos dias ele passa por Paris, Santo Domingo, New Orleans, Los Angeles e New York) e adentrar prédios sem nenhum esforço, bem como a facilidade que ele tem de conseguir identidades e placas de carro falsas. Aos poucos, isso começou a ficar cada vez menos crível para mim, o que me afastou um pouco da história. O desenvolvimento dos personagens secundários da trama também é quase inexistente, sobretudo com relação a namorada do assassino (interpretada pela brasileira Sophie Charlotte), e mesmo que eu tenha entendido desde o início que a intenção do diretor era justamente ter um filme intimista focado em apenas um personagem, não posso negar que senti falta dos demais.


Apesar de não considerá-lo um dos melhores trabalhos do Fincher, O Assassino me prendeu enquanto o assistia, e está longe de ser um filme descartável, principalmente pela ótima atuação do Fassbender. Além dele e da Sophie Charlotte (que aparece pouco mas tem um papel crucial na história), o elenco ainda tem Tilda Swinton na pele de uma "colega" de profissão do protagonista, e cuja cena juntos é muito interessante. Por fim, o ritmo pode até ser diferente do que estamos acostumados a ver, mas a assinatura do diretor está presente em cada frame, e isso é inegável.

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