segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Crítica: Napoleão (2023)


Quando se fala em filme épico na atualidade, não tem outro nome que me venha à cabeça que não seja o de Ridley Scott. O cineasta, que nunca abriu mão da grandiosidade estética em seus trabalhos, é responsável por alguns dos filmes mais expressivos do gênero, como Gladiador (2000), Cruzada (2005) e mais recentemente O Último Duelo (2021), que eu inclusive acho extremamente subestimado, pois ao contrário da opinião geral, o considero um dos melhores lançados naquele ano. Dito isto, quando foi anunciado que Scott estava por trás de uma produção sobre Napoleão Bonaparte, a expectativa não poderia ter sido maior, sobretudo quando foi confirmada a presença de um dos atores mais completos da nossa geração na pele do imperador: Joaquin Phoenix. E diferentemente da esmagadora maioria, posso dizer que gostei do que vi, pois apesar de ter pontos negativos bem evidentes, a experiência no cinema foi bem satisfatória.


O filme inicia logo após a Revolução Francesa eclodir e levar à guilhotina milhares de membros e apoiadores da Monarquia, no chamado "Período do Terror". Nesta época, Napoleão era apenas capitão de artilharia do exército francês, mas ganhou notoriedade na batalha que ficou conhecida como O Cerco de Toulon, em 1793, onde foi o autor do plano que heroicamente levou a França à vitória contra os britânicos. O feito logo o promoveu à General, dando início a caminhada militar e política de Napoleão que o levaria, posteriormente, ao cargo de Imperador da França.

As últimas palavras de Napoleão antes da morte em 1821 foram "França, exército e Josephine", naturalmente suas principais paixões na vida. E são justamente estes três elementos que o roteiro, escrito por David Scarpa, utiliza para forjar a personalidade dele ao longo de duas horas e meia. Há muita discussão rolando acerca da veracidade dos fatos mostrados no roteiro e da forma como o diretor apresenta Napoleão à sua própria maneira, e isso inclusive vem gerando inúmeras críticas por parte de historiadores. A verdade é que às vezes o filme parece realmente desconexo da realidade e peca em não se aprofundar tanto em questões importantes que justificariam o porquê de Napoleão ter se tornado um homem tão idolatrado. E é inegável que isso acaba fazendo falta para uma melhor contextualização do personagem dentro da própria história.


Considerado um homem cheio de controvérsias, Napoleão era reconhecidamente um homem inteligentíssimo e um estrategista de primeira, mas essa sua faceta não é tão explorada no filme, que prefere apostar mais na parte sentimental de sua relação com Josephine (Vanessa Kirby). Aliás, todo o filme é conectado pelas famosas cartas que Napoleão escreveu para a esposa enquanto estava nas batalhas e depois no exílio, e com exceção das cenas de combates, os momentos com a esposa são os que mais tomam tempo de tela. Era uma relação conturbada, cheia de mentiras e traições, e é interessante analisar como as palavras das cartas parecem se contradizer com o que é visto em cena, pois em nenhum momento parece haver amor entre os dois. O que vemos acima de tudo é uma relação fria, talvez apoiada muito mais no sexo, na posse e no desejo de Napoleão em ter um herdeiro, do que pela paixão propriamente dita.

Há que se dizer também que algumas cenas parecem descoladas, e isso talvez se justifique pelo fato do diretor ter cortado boa parte do filme para poder distribuí-lo nos cinemas com uma duração comercialmente aceitável, enquanto promete lançar uma versão completa de mais de quatro horas em breve diretamente no streaming. Ainda assim, acaba sendo bem perceptível que a montagem deixa muita coisa solta e sem explicação, como a própria relação de Napoleão com os personagens secundários da trama, que não têm quase nenhum desenvolvimento.


Apesar dos defeitos serem bem explícitos, uma coisa que não se pode negar é que visualmente o filme é impressionante. Toda a reconstituição da época, tanto os figurinos como os cenários, são extremamente bem construídos, e as cenas das batalhas apresentam uma brutalidade poucas vezes vista em filmes de guerra, sendo um verdadeiro deleite na tela grande do cinema. E justamente por isso, e nadando totalmente contra a maré, afirmo que Napoleão cumpriu com as expectativas que eu havia colocado sobre ele.

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