domingo, 17 de março de 2024

Crítica: Green Border (2023)


O tema da migração de refugiados tem sido de grande preocupação nos últimos anos, sobretudo no continente europeu, e muitos diretores estão usando o cinema para trazer à tona a dor e sobretudo a perseverança destas pessoas que deixam todas as suas coisas para trás, o seu país para trás, e enfrentam milhares de quilômetros atravessando lugares desconhecidos, correndo riscos de vida e sem saber o dia de amanhã. Novo filme da diretora polonesa Agnieszka Holland, Green Border mostra esta dura realidade focando em fatos reais que aconteceram e ainda acontecem especificamente na fronteira entre a Polônia e a Bielorrúsia, uma região que vive em constante tensão.


Todos os meses, são registradas milhares de tentativas de atravessar a fronteira entre os dois países, e o governo polonês acusa o governo bielo-russo de orquestrar o tráfico ilegal destes refugiados como forma de retaliação às sanções impostas ao país após graves violações dos direitos humanos. Segundo os poloneses, os bielo-russos estariam atraindo os imigrantes de países do oriente médio e do norte da África sob o discurso de que a fronteira da Polônia é a mais fácil de ser atravessada, e tudo isso para criar um conflito diplomático ainda maior do que o que já existe entre as duas nações. Mais do que isso, acusam também o governo russo de estar apoiando estas ações, financeiramente e militarmente. E no meio de toda esta confusão, quem mais sofre são justamente os refugiados, que acabam acreditando que estão sendo ajudados, quando na verdade estão sendo apenas massa de manobra.

O filme se divide em capítulos, e o primeiro deles começa apresentando uma família síria que está indo em direção a Suécia, onde um familiar deles os espera. Após a chegada no aeroporto de Minsk, capital da Bielorrússia, eles são levados até a fronteira dentro de uma van, onde são ainda mais extorquidos pelos guardas. Logo após a travessia para o lado polonês, eles são abandonados, e na tentativa de sobreviver acabam sendo capturados pela guarda de fronteira, que imediatamente tentam deportá-los de volta. É aí que começa o jogo de "pingue-pongue", onde essas pessoas são jogadas de um lado para o outro, sempre de forma violenta e sem nenhum tipo de perspectiva.

Os demais capítulos mostram os outros lados desta complexa teia de acontecimentos. No segundo, por exemplo, acompanhamos o guarda de fronteira Janek, que está se preparando para ser pai. Neste capítulo também tomamos ciência da opinião geral da sociedade polonesa em relação aos refugiados, que em sua grande maioria rechaça de maneira preconceituosa a ajuda humanitária dada a eles. Em outro capítulo, acompanhamos um grupo de ativistas que luta para ajudar estes refugiados, mas que mesmo com toda boa vontade do mundo, não podem ultrapassar as leis que regulamentam a situação.


Extremamente angustiante, Green Border é um filme que acima de tudo denuncia a forma como o governo polonês está tratando os casos, em paralelo à aproximação com grupos de extrema direita e neonazistas. Mais do que isso, mostra a hipocrisia de um governo que lida de um jeito rigoroso e até mesmo desumano com refugiados dos países subdesenvolvidos, mas que acolheu milhares de ucranianos após a invasão russa. "Meu pecado é ter nascido com o pior passaporte possível", diz um dos personagens, e serve como um grande tapa na cara desta ajuda humanitária seletiva.

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