domingo, 10 de março de 2024

Crítica: Garra de Ferro (2023)


 
Retrato de uma obsessão doentia, que direta ou indiretamente, acaba gerando uma espiral de tragédias. Garra de Ferro (The Iron Claw) conta de forma crua a história real por trás dos Von Erich, que se tornaram a família mais famosa do mundo do Wresteling (luta-livre profissional), tanto pelas conquistas nos ringues como pelas tragédias que assolaram a família durante anos, quase como uma maldição.
 


O patriarca da família era Fritz (Holt McClallany), um homem que pro anos batalhou para conquistar o cinturão de campeão na NWA, mas nunca conseguiu realizar seu sonho. Essa sua obsessão acaba sendo passada para cada um dos filhos, que desde pequenos foram colocados nos treinamentos para se tornarem lutadores, com o desejo imparável do pai de ver o cinturão de campeão parar na família. O mais velho, Kevin (Zac Efron), é o que está mais perto de alcançar essa conquista. Outros tentam seguir sonhos diferentes, como Mike (Stanley Simons) na música, ou até mesmo em outro esporte que não seja a luta, como Kerry (Jeremy Allen White), que vira atleta de arremesso de disco. Porém, uma hora ou outra, todos acabam sendo levados a lutar oor pressão do pai. E é interessante perceber como eles querem dar o seu melhor não apenas para ganhar, mas para se tornar o "filho preferido" do pai.

O que mais gostei em Garra de Ferro é que o filme foge completamente de narrativas clichês que são usadas constantemente em filme do tipo. Em outras palavras, não é uma cinebiografia esquemática, que segue um padrão. Temos, sim, uma abordagem muito humana e complexa da relação familiar dos personagens, e principalmente do sentimento deles em relação às fatalidades que ocorrem dentro do círculo familiar. Um fato curioso é que ocorreu tanta coisa ruim com eles, que o diretor optou até mesmo por tirar da história um dos irmãos, que segundo consta, teve a pior de todas as ocorrências.

A atuação do ator Zac Efron é o momento apoteótico da sua carreira. Ele consegue passar com firmeza toda a transformação dramática pelo qual seu personagem passa durante a jornada, e o peso de ser considerado o responsável por fazer a família dar a volta por cima de tanta tragédia com uma conquista nos ringues. O resto do elenco também está muito competente, onde todos os atores tem seu espaço na construção desta família bastante complexa. Gostei muito também da ambientação da época, que foi muito bem construída.
 


Indo muito além de um filme sobre a superação no esporte, Garra de Ferro fala principalmente sobre laços familiares, dor e luto. Tem trechos verdadeiramente angustiantes, mas ao mesmo tempo carrega uma pulsante e enérgica  vontade de vencer, tanto no esporte como na vida. Numa época onde a saúde mental de atletas tem sido muito discutida, Garra de Ferro também serve como um alerta de como a pressão pela vitória pode ser nociva. A consagração no esporte é linda, mas jamais deve passar por cima de outras coisas mais importantes.
 

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