sexta-feira, 15 de março de 2024

Crítica: 20.000 Espécies de Abelhas (2023)


Dirigido por Estibaliz Urresola Solaguren, 20.000 Espécies de Abelhas é um filme muito terno e sensível sobre a construção da identidade de uma criança que começa a perceber que não se encaixa no corpo que veio ao mundo. Após muitos elogios recebidos em festivais mundo à fora, o filme se sagrou com o prêmio de melhor roteiro no Goya (o Oscar espanhol), o que só engrandeceu ainda mais a estreia desta diretora que se mostra extremamente promissora.


Na trama, Ane (Patricia López Arnaiz) é mãe de três crianças, e entre elas está Aitor (Sofía Otero), um menino de oito anos. Ele não gosta de ser chamado pelo nome, mas mais do que isso, não consegue se identificar com o gênero com que fisiologicamente nasceu. Durante umas férias passadas na casa da família em uma zona rural, Aitor começa a se questionar de maneira mais contundente sobre a sua identidade de gênero, mas o processo é amargo, já que ninguém sabe lidar muito bem com isso. A avó de Aitor, Lita (Itziar Lazkano), que trabalha como apicultura, é quem acaba encarando a situação de maneira muito sensível, inclusive nos diálogos com a própria filha, que parece de certa maneira querer fugir da responsabilidade de aceitar o que o filho, ou filha, é.

A direção de fotografia faz um belo trabalho ao recriar a zona rural, que acaba tendo um papel importante no amadurecimento desta criança. E por falar nela, que grande atuação da menina Sofía Otero, cujos olhares e expressões conseguem captar perfeitamente todo o sentimento conflituoso pelo qual sua pequena personagem está passando. Ao perguntar de forma honesta para o irmão mais velho quando foi que ele descobriu quem ele era de verdade, vemos o quanto ela está em busca de descobrir a si mesma e principalmente o que está acontecendo, mesmo que ainda não compreenda direito o que é.


Mais do que o amadurecimento das crianças, o filme também fala sobre a relação que há entre as diferentes gerações, neta, mãe e avó, e os laços que existem e que deixaram de existir com o tempo entre elas. Um roteiro muito complexo, bem escrito, e que mesmo com um ritmo lento consegue envolver bastante quem assiste.

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