quarta-feira, 6 de março de 2024

Crítica: Zona de Interesse (2023)


Banalidade do mal é uma expressão criada pela teórica política alemã Hannah Arendt, cujo conceito casa perfeitamente com a história contada em Zona de Interesse, filme do diretor britânico Jonathan Glazer. A ideia de que o mal está tão enraizado na humanidade que as pessoas cometem atrocidades até mesmo sem querer, de acordo com o contexto que estão inseridas, e foi muito citada nos julgamentos dos oficiais nazistas após a Segunda Guerra, sob o pretexto de que tudo que eles fizeram nos campos de concentração tinham o respaldo da lei vigente na época.


A verdade é que as maiores atrocidades da humanidade não foram cometidas diretamente pelos vilões conhecidos dos livros de história, mas sim por pessoas comuns, que viviam suas vidas normalmente entre uma morte e outra. É o caso de Rudolf Hoss (Christian Friedel), que comanda o campo de concentração de Auschwitz, considerado o maior do período nazista. O filme começa nos ambientando na casa grandiosa onde Hoss vive com a esposa Hedwig (Sandra Hüller) e os filhos, com piscina e belos jardins, ao lado dos prédios precários onde judeus são mantidos em situações desumanas. Hoss e a família nadam no rio local em um dia quente, comemoram aniversários, recebem visitas e fazem planos a longo prazo para a residência. Tudo aparentemente normal, não fosse o que está do outro lado dos muros.

 

Nós não vemos o campo em si, muito menos os prisioneiros, pelo menos não da maneira como estamos acostumados a ver em outros filmes do gênero. A única exceção são suas torres e alguns pedaços dos telhados que surgem por cima do muro. que incomoda o espectador é justamente saber de antemão o que está acontecendo do outro lado, e o quanto esta família parece alheia a tudo. Enquanto as crianças brincam na piscina, atrás podemos ver a fumaça dos crematórios subindo pelas chaminés, ou a fumaça dos trens chegando, que sabemos, novamente apenas pelo conhecimento prévio da história, estarem abarrotados com mais prisioneiros. Hedwig mostra à sua mãe as hortas e jardins que ela cultiva no pátio, enquanto gritos de pavor são ouvidos do lado de fora. E absolutamente ninguém se importa.


Um dos pontos principais a se destacar em Zona de Interesse é o som do filme. É um trabalho realmente impressionante. São tiros, gritos, tudo abafado, mas praticamente onipresente. Gosto também da fotografia do filme, com seus planos estáticos, como se fôssemos observadores de tudo que acontece à nossa frente. meu problema com o filme, é que em certo momento ele se torna um tanto quanto monótono. E antes que digam qualquer coisa, eu não tenho problema algum com filmes de ritmo lento, mas este definitivamente não funcionou comigo da mesma forma que funcionou com outras pessoas (e tudo bem). O diretor também utiliza alguns elementos experimentais que acabaram me afastando um pouco da história, como a história da menina que é mostrada sempre por uma câmera de visão noturna. Acredito que o filme é satisfatório na demonstração de sua ideia, e é bem fácil entendê-la, mas infelizmente peca no desenvolvimento.

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