quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Crítica: O Caso Richard Jewell (2020)


Em 1996, um atentado a bomba no Centennial Olympic Park, em Atlanta, durante as Olimpíadas de verão, matou uma pessoa e feriu mais de cem. Esse episódio é trazido às telas pela primeira vez nas mãos do cineasta Clint Eastwood, tendo como foco o segurança Richard Jewell, que logo após o acontecimento se transformou em herói nacional por evitar que a tragédia fosse ainda pior.



Richard Jewell (Paul Walter Hauser) é um homem de meia idade que ainda mora com a mãe (Kathy Bates) e vive de empregos mesquinhos. Seu sonho sempre foi ingressar na polícia, e ele vê uma grande oportunidade de chegar próximo disso ao aceitar trabalhar como vigia no maior evento esportivo do mundo, as Olimpíadas. Durante um show musical de festejo ao evento, no parque olímpico da cidade, Jewell desconfia de uma mochila deixada embaixo de um banco e alerta todas as autoridades, que logo iniciam a evacuação do perímetro. O artefato, no entanto, explode antes de conseguirem afastar toda a multidão, e muitas pessoas acabam se ferindo.

Depois da análise preliminar na cena do crime, o segurança ganha status de herói, pois fica evidente que muito mais pessoas teriam se ferido, ou até mesmo morrido, caso ele não tivesse descoberto o explosivo a tempo. Seu nome passa a estampar capas de jornais e aparece na televisão, deixando extremamente orgulhosa sua mãe coruja. Não demora muito, porém, para que tudo vire do avesso na vida de Jewell. De herói, ele passa a ser acusado pelo agente do FBI Tom Shaw (Jon Hamm) de ter implantado a bomba propositalmente, com o intuito de ganhar fama em cima disso e subir na carreira.



O filme faz uma excelente crítica ao setor de investigação de crimes nos Estados Unidos, que já acusou injustamente milhares de pessoas. Mostra muito bem como é um sistema passível de erros, sobretudo quando está agindo sob pressão. Mais do que isso, critica também a forma como a mídia sensacionalista lida com esse tipo de situação. Chega um determinado momento do filme que você realmente pára e pensa "mas será mesmo que não foi ele que pôs a bomba?", porque eles são tão cínicos e convincentes em seus argumentos que chega a confundir nossa cabeça.

O roteiro é muito consistente, e o trabalho de direção de Eastwood une muito bem a dramaticidade com o senso de humor sarcástico. Gostei muito da forma como são apresentados os personagens, principalmente o protagonista, mostrando suas ações detalhadamente e construindo pouco a pouco sua personalidade. Preciso falar da força da atuação de Paul Walter Hauser, que está impecável no papel e que infelizmente foi ignorado por todas as premiações do ano. Kathy Bates, que acaba de ser indicada ao Óscar de melhor atriz coadjuvante por esse papel, também está muito bem na figura da mãe doce, ingênua e super protetora, e é responsável pelos momentos mais engraçados da trama. O elenco ainda conta com um excelente Sam Rockwell, na pele do advogado de Jewell, que entrega mais uma vez uma atuação competentíssima.



Por fim, O Caso Richard Jewell se junta a tantos outros longas e séries lançados ultimamente sobre erros de perspectiva dos investigadores e suas acusações infundadas. Acima de tudo, é um filme sobre não baixar a cabeça, nem mesmo em situações desesperadoras, como é o caso de uma injustiça. Trata-se do melhor filme de Clint Easwtood desde Gran Torino.


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