quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Crítica: Um Lindo Dia na Vizinhança (2020)


Fred Rogers foi o criador e apresentador do Mister Rogers' Neighborhood, um programa de televisão infantil que ficou muito popular nos Estados Unidos na década de 1960. O novo filme de Marielle Heller (de Poderia me Perdoar?) nos conta um pouco da personalidade deste artista, sob a ótica de um jornalista que está escrevendo uma matéria de revista sobre ele.



O filme já começa apresentando, para aqueles que não o conheciam, como era o formato do programa de Fred Rogers (Tom Hanks), com sua maneira doce de falar, suas brincadeiras e seus bonecos fantoches falantes. Confesso que sou um dos que nunca tinham tido contato com o programa, e logo após o filme procurei por alguns vídeos do original para comparar, e realmente ficou muito boa esta caraterização, tanto da produção quanto do ator.

A estória porém muda de tom quando o jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys) recebe de sua editora chefe a missão de fazer uma reportagem para uma revista sobre o apresentador, contando um pouco da sua vida, da sua rotina e das suas ideias. É a partir deste momento que, para mim, o filme perde sua essência. Ao focar a narrativa em Lloyd, deixando o apresentador como um mero coadjuvante, o enredo perde fôlego, sobretudo pelo personagem do jornalista e suas relações familiares serem extremamente desinteressantes e sem carisma.



Os melhores momentos ficam mesmo por conta do personagem de Tom Hanks, que se torna quase uma alegoria na estória. Sua aparições são sempre recheadas de bons diálogos sobre a maneira de enxergar a vida, e a melhor cena do filme (e uma das melhores que já vi na vida) acontece quando ele incita Lloyd a pensar, durante um minuto, nas pessoas que tiveram influência em quem ele é hoje. É um exercício de linguagem brilhante e muito perspicaz da diretora, já que a cena fica exatamente um minuto parada e em silêncio, induzindo o espectador a fazer a mesma coisa.

Não é um filme focado na vida de Rogers, mas sim, na forma como ele tocava a vida das outras pessoas com sua doçura e empatia, e isso é interessante. Chegamos a nos perguntar "será possível uma pessoa ter um coração tão bom assim em 100% do tempo?", e o personagem do repórter é justamente essa nossa voz tentando encontrar algo que contradiga isso, mas a resposta de fato nunca vem.



Por fim, Um Lindo Dia na Vizinhança não deixa de ter seus belos momentos, mas o roteiro realmente deixa muito a desejar, o que de fato é uma pena, pois tinha um grande potencial pelo personagem complexo que possuía em mãos. Fica, pelo menos, a compensação de ter visto mais uma grande atuação na carreira de Tom Hanks e de conhecer, através dele, um pouco mais dessa figura extremamente humana que era Fred Rogers.


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