sábado, 25 de dezembro de 2021

Crítica: Não Olhe Para Cima (2021)


Há muito tempo não vivíamos uma era de negacionismo tão grande como a que estamos vivendo. A pandemia de coronavírus deixou isso ainda mais evidente, com muita gente desacreditando os fatos científicos e sendo contrários à vacinação. Podemos também traçar um paralelo em relação às questões do meio ambiente, onde muitos não levam a sério os efeitos do aquecimento global e acham que é tudo uma grande bobagem. Pois pegue esses pensamentos negacionistas e imagine a seguinte situação: um cometa está vindo na direção da Terra e seu choque deve levar à extinção de todos os seres vivos. Como será que a população de hoje reagiria a essa notícia?


Esqueça os filmes que você já assistiu sobre a chegada de um objeto devastador à Terra e se prepare para embarcar em algo totalmente original. Não Olhe Para Cima, novo filme de Adam McKay, pega o tema e o transporta para a nossa realidade, de uma sociedade que parece cada dia mais superficial e indiferente. Na trama, a estudante de astronomia Kate Dibiaski (Jennifer Lawrence) enxerga no telescópio um objeto que parece ser um cometa e mostra ao seu professor, o Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), que faz os cálculos de rota e logo conclui que o objeto está vindo em direção à Terra, com 99,78% de chances de impacto.

Com cerca de 5 a 10 quilômetros de diâmetro, o cometa deve levar 6 meses para alcançar a nossa superfície, e os dois precisam avisar o quanto antes as autoridades para que medidas sejam tomadas afim de evitar a catástrofe. A partir de então começa uma verdadeira odisseia de Kate e Randall para tentar levar a informação ao maior número de pessoas, pois ninguém quer ouvi-los ou sequer levá-los a sério. 


A presidente dos Estados Unidos, Janie Orlean (Meryl Streep), está mais preocupada de como a notícia pode afetar as eleições do que com o futuro da humanidade. Os jornalistas parecem mais preocupados com a separação de uma cantora famosa do que com aquilo que os astrônomos têm a dizer, já que é preciso focar no que dá mais audiência. Afinal, quem quer ficar ouvindo que o mundo está para acabar, não é mesmo?

O roteiro evidentemente faz uma crítica à maneira como o mundo enxerga a ciência hoje em dia. Mesmo com dados que colocam em cheque a vida da população na Terra, os dois astrônomos praticamente não têm espaço na mídia, e quando finalmente são ouvidos, é tudo levado na brincadeira, com muitos memes nas redes sociais. Como se não bastasse, surge um movimento "anti-cometa" que cria a hashtag #NãoOlheParaCima, que vai de encontro ao que defende Randall, de que as pessoas olhem para cima e vejam o óbvio, que é o cometa se aproximando. Porém, hoje em dia nem o óbvio as pessoas parecem conseguir enxergar mais. Há ainda o adendo de uma empresa de tecnologia e seu megalomaníaco CEO, interpretado por Mark Rylance, que visa apenas lucros diante do desastre iminente, e que junto com a presidente torna tudo um grande circo midiático. 


O longa nada mais é do que um retrato de como vivemos em uma sociedade doente, que parece não levar nada a sério e onde tudo é medido por engajamentos. O elenco é estelar, mas tem como destaque principalmente Leonardo DiCaprio (que tem uma cena específica que valeria uma indicação ao Oscar) e Jennifer Lawrence. Alguns atores são um tanto quanto caricatos em seus personagens, como é o caso de Meryl Streep e Jonah Hill, mas consigo enxergar isso como proposital para ridicularizar ainda mais o que eles representam. Com um humor ácido, típico dos filmes de McKay, Não Olhe Para Cima fecha o ano com chave de ouro, sendo para mim o melhor filme com selo Netflix nesse ano de 2021.

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