quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Os 20 melhores filmes lançados no Brasil em 2021

Chega o fim de dezembro, e mais uma vez é hora de postar os melhores filmes do ano. Este foi um ano em que muita coisa boa foi lançada, tanto nos cinemas, que voltaram a receber público depois de meses com portas fechadas, quanto nos serviços de streaming, que justamente por conta da pandemia ainda tiveram muitas estreias com exclusividade. Lembrando sempre que a escolha é pessoal, e eu só coloco filmes que tiveram lançamento oficial no país de 1º de janeiro até o fim do ano. Sem mais delongas, vamos a ela:

20. Loucos por Justiça, de Anders Thomas Jensen (Dinamarca)


Sucesso de público e crítica na Dinamarca, o filme aborda o tema do luto familiar de um jeito muito original e ousado, abusando de uma característica típica do cinema de Anders Thomas Jensen: o humor ácido. Na trama, Markus (Mads Mikkelsen) é um militar em ação que precisa voltar pra casa após a notícia de que sua esposa morreu em um acidente de trem. Lidando com o luto e tendo que cuidar da filha adolescente (Andrea Gadeberg) que sobreviveu, ele recebe a visita do matemático Otto (Nikolaj Kaas), que estava no mesmo vagão da sua esposa e desconfia que não foi um acidente, mas sim uma ação criminosa para matar um dos passageiros sem deixar pistas. Otto se junta aos amigos Lennart (Lars Brygman) e Emmenthaler (Nicolas Bro) para tentar comprovar a teoria do suposto atentado, algo que a polícia não leva a sério e descarta investigar. Mas eles não desistem e procuram a ajuda de Markus, justamente por saberem que na dor da perda ele faria de tudo para procurar a verdade e consequentemente a justiça. Mesmo recheado de alívios cômicos, não se trata de um filme leve, e o filme traz uma série de reflexões importantes sobre temas como o luto, a amizade, a família, o sentido de algumas coisas acontecerem nas nossas vidas e o fato de que não precisamos de respostas para tudo.

19. A Ausência que Seremos, de Fernando Trueba (Colômbia)


O novo filme de Fernando Trueba nos apresenta a figura de Hector Abad Gómez (Javier Câmara), um médico sanitarista e professor universitário de Medellín que foi um forte defensor dos direitos humanos durante a ditadura colombiana. A história é contada sobre a visão do filho de Hector, e se passa em dois períodos distintos: quando ele era criança e vivia colado ao pai, e quando ele, já adulto, precisa voltar à Medellin para a despedida do pai na faculdade onde ele lecionou por anos. Interessante analisar que o médico não se dizia nem de esquerda e nem de direita, mas sofreu perseguição ao ser considerado comunista por se preocupar com a população de baixa renda (qualquer semelhança com os dias de hoje é mera coincidência). A Ausência que Seremos é um filme que quase passou despercebido no catálogo da Netflix este ano, mas recomendo fortemente para quem tiver a oportunidade de assisti-lo.

18. Tenho Medo Toureiro, de Rodrigo Sepúlveda (Chile)

 

Adaptado do livro do chileno Pedro Lemebel, Tenho Medo Toureiro é um filme muito sensível sobre preconceito, resistência, aceitação e, sobretudo, o amor, seja ele na forma que for. La Loca del Frente (Alfredo Castro) é uma travesti quase beirando os 60, que vive sozinha e se apaixona por um homem que a salva de ser espancada durante uma batida militar numa boate. Vale lembrar que o enredo se passa durante a ditadura no Chile, que era extremamente intolerante contra o público LGBT. O homem que a salva é Carlos (Leonardo Ortizgris), um jovem que faz parte de um grupo revolucionário que está planejando assassinar Pinochet. Movida pela paixão repentina e também como uma forma de recompensa-lo, "La Loca" aceita guardar em sua casa algumas caixas de Carlos que supostamente teria livros subversivos dentro. Com um leve toque de humor, mas sempre preocupado em mostrar a dura realidade daquela época, o roteiro também acerta em tocar num ponto muito perspicaz: de que não foi somente em ditaduras que os LGBT's sofreram abusos e repressão, e que por isso mesmo, muitos deles não estavam na linha de frente contra o regime, já que não fazia diferença.

17. Marighella, de Wagner Moura (Brasil)


Depois de dois anos sofrendo com inúmeros adiamentos burocráticos, finalmente chegou aos cinemas brasileiros o longa Marighella, que marca a estreia de Wagner Moura na direção e conta a história de Carlos Marighella, revolucionário que liderou a luta armada contra a ditadura no Brasil. O filme se passa basicamente entre os anos 1964 e 1969, quando a ditadura havia acabado de ser instaurada e o país vivia um dos seus períodos históricos mais conturbados. Neste cenário surge Marighella (Seu Jorge), um político comunista e cofundador da ALN (Aliança Libertadora Nacional), que por conta de suas ações violentas de enfrentamento ao regime, chegou a ser considerado o inimigo número um do governo militar. Gostei muito do ritmo do filme, que não deixa a história se tornar cansativa mesmo com suas 2h30 de duração. As idas e voltas no tempo também são fáceis de acompanhar graças a ótima montagem, que mostra tanto o lado guerrilheiro de Marighella como o lado pessoal e familiar. Outro fato que chamou muito a minha atenção é a excelente ambientação da época, além, é claro, do elenco super afiado. Numa cena pós crédito temos um momento bastante catártico, que passa a importante mensagem de que a "pátria amada" não é de um grupo ou de outro, mas sim de todos nós. Dá para perceber também, mesmo que de forma muito sucinta, certas críticas indiretas aos dias de hoje, numa forma de mostrar que algumas semelhanças com aquele período não são meras coincidências.

16. Druk - Mais uma Rodada, de Thomas Vinterberg (Dinamarca)


O enredo de Druk acompanha Martin (Mads Mikkelsen), um professor que está passando por um momento melancólico na sua fase dos 40 anos e que vive desanimado com a carreira, com o casamento e com a vida em geral. Martin tem três amigos professores de longa data que também estão com problemas, Tommy (Thomas Bo Larsen), Nicolaj (Magnos Millang) e Peter (Lars Ranthe). Um dia eles descobrem a teoria de um filósofo dinamarquês que fala que o ser humano, para viver bem e em plenitude, precisa ter uma certa quantidade de álcool no sangue por dia, e aceitam o desafio de testar isso na prática. Tudo vai bem no começo, inclusive com eles melhorando vários aspectos das suas próprias vidas, passando a ver tudo com mais interesse e sendo muito mais criativos, mas é claro que com o tempo alguns problemas começam a acontecer, principalmente pela velha mania que temos de chegar no nosso limite e acharmos que podemos ir um pouco além. Eu achei o filme inteiro muito verdadeiro, desde as atuações até as situações que ocorrem com os personagens, que por sinal são muito bem desenvolvidos pelo roteiro, com suas inseguranças e ansiedades. A ideia de se viver sempre entorpecido, como uma forma de fugir da realidade, é algo que agrega boas discussões, mas o filme foge da ideia de glamourização do álcool, principalmente quando incita os personagens a terem que lidar com as próprias consequências disso. O final é uma catarse, e um dos momentos mais legais do cinema nos últimos anos.

15. Reze Pelas Meninas Roubadas, de Tatiana Huezo (México)


Dirigido pela estreante Tatiana Huezo, Reze Pelas Meninas Roubadas é baseado no livro homônimo de Jennifer Clement que conta a história de meninas que são tiradas de suas famílias para virarem escravas sexuais de milícias armadas no México. O roteiro gira em torno de Ana (Ana Cristina Gonzales), uma menina que vive com a mãe em um vilarejo no estado de Jalisco, e convive diariamente com o medo e a preocupação de ser a próxima sequestrada. O grande acerto da direção é trazer o ponto de vista das crianças sobre esses crimes absurdos, numa visão sincera de quem não entende muito bem o que está acontecendo mas traz o medo no olhar. É através das reações e dos olhares dessas meninas que sentimos o verdadeiro impacto que as organizações criminosas criam na vida e no dia a dia dessas pessoas. Para evitar serem visadas, elas são obrigadas a cortar o cabelo curto, e uma das cenas mais emocionantes do filme é justamente num momento como esse. São meninas que não conseguem viver uma vida normal, quase não conseguem dar um sorriso, mas que carregam uma doçura encantadora dentro delas, que transbordam em pequenas ações.
 
14. Não Olhe Para Cima, de Adam McKay (Estados Unidos)

A estudante de astronomia Kate Dibiaski (Jennifer Lawrence) enxerga no telescópio um objeto que parece ser um cometa e mostra ao Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), que faz os cálculos de rota e logo conclui que o objeto está vindo em direção à Terra e que o impacto será catastrófico. Os dois precisam avisar o quanto antes as autoridades para que medidas sejam tomadas, mas a partir de então começa uma verdadeira odisseia de Kate e Randall, pois ninguém quer ouvi-los ou sequer levá-los a sério. O roteiro evidentemente faz uma crítica à maneira como o mundo enxerga a ciência hoje em dia, além de criticar a sociedade do espetáculo e do engajamento que vivemos. Mesmo com dados que colocam em cheque a vida da população na Terra, os dois astrônomos praticamente não têm espaço na mídia, e quando finalmente são ouvidos, é tudo levado na brincadeira, com muitos memes nas redes sociais, além de gerar uma onda negacionista que fala que eles estão mentindo para a população. Ao pedir para olharem para cima e enxergarem o cometa se aproximando, o protagonista está pedindo que as pessoas apenas enxerguem o óbvio, coisa que hoje em dia tem sido difícil.
 

13. Duna, de Denis Villeneuve (Estados Unidos)


Dirigido por Denis Villeneuve, Duna se baseia no livro homônimo lançado por Frank Herbert em 1965 e que é considerado até hoje o livro de ficção científica mais vendido da história. O filme começa nos apresentando o desértico e distante planeta Arrakis, que há 80 anos é dominado pelos forasteiros Harkonnen, que exploram as dunas do local atrás de especiarias que são extremamente valiosas. Certo dia, o império decide tirar os Harkonnen do local e designar Leto Atreide (Oscar Isaac) como novo comandante. Atreide então viaja até Arrakis com sua família para se instalar e se adaptar ao novo planeta, que é extremamente quente com temperaturas que chegam a mais de 140 graus no sol. Porém, quando Leto descobre que foi traído pelo império, ele se vê obrigado a se juntar aos nativos do planeta para combater os inimigos, que querem ele e sua família mortos. Eu gostei muito da contextualização que o diretor faz da história para quem, assim como eu, não a conhecia, e fiquei na expectativa da continuação, que deverá ser lançada em 2023.
 
12. O Homem Ideal, de Maria Schrader (Alemanha)

Representante da Alemanha no Oscar 2022 de melhor filme internacional, O Homem Ideal (Ich Bin Dein Mensch) bebe da mesma fonte de Ela, lançado em 2013 e dirigido por Spike Jonze, e também aborda a relação de seres humanos com a inteligência artificial. No filme da diretora Maria Schrader, uma nova tecnologia está sendo testada onde um robô humanoide promete ser o par perfeito para quem tiver solitário, com base no escaneamento dos gostos da pessoa contratante do serviço. Alma (Maren Eggert) é uma antropóloga que aceita o desafio de testar por 3 semanas a tecnologia para depois fazer um relatório sobre suas impressões, e recebe em sua casa o robô Tom (Dan Stevens), que passa a conviver com ela diariamente. Programado para fazer só o que Alma gosta, Tom vai se moldando pouco a pouco às preferências dela, tentando ser o mais perfeito possível em todos os aspectos e deixar Alma feliz ao seu lado, mas o resultado acaba sendo o contrário. O filme se aprofunda em questões muito humanas, como solidão, perdas, e claro, o amor, e tem um senso de humor que o faz ser leve e agradável para todos os gostos.
 
11. Minari, de Lee Isaac Chung (Estados Unidos) 
 
A trama se passa na década de 1980 e acompanha o casal de imigrantes coreanos Jacob e Monica, que estão se mudando da Califórnia para o Arkansas junto com os filhos para tentar uma vida melhor. Há anos trabalhando no negócio aviário, eles decidem comprar um pedaço de terra para mudar um pouco a rotina e ganhar a vida plantando frutos e vegetais originários da Coreia do Sul, afim de atender a grande quantidade de imigrantes do país que estavam chegando aos Estados Unidos. As coisas, no entanto, se mostram muito mais difíceis do que eles imaginavam, por inúmeras questões, como o próprio choque de culturas que é evidenciado no filme através de pequenos detalhes. É um roteiro bastante singelo, com personagens muito humanos, e fica evidente que é um filme feito com muito amor pelo fato de trazer memórias afetivas da própria vida do diretor, que nasceu nos Estados Unidos mas é filho de imigrantes.

10. No Ritmo do Coração, de Sian Heder (Estados Unidos)


Adaptado do filme francês "A Família Bélier" (2014), CODA (abreviação para Children of Deaf Adults/ Filhos de adultos surdos) acompanha uma família de surdos que vive da pesca numa pequena cidade litorânea de Massachusetts. Dos 4 membros da família, apenas uma consegue ouvir e falar: a caçula Ruby (Emilia Jones). Por conta disso, Ruby acaba sendo o elo entre seus pais (Marli Matlin e Frank Troy Kutsur) e seu irmão mais velho (Daniel Durant) com o mundo exterior, ajudando-os principalmente nos negócios. Descoberta pelo professor de música da escola, Ruby começa a fazer audições para conquistar uma bolsa na faculdade de música de Boston, porém a necessidade da família em tê-la por perto pode pôr tudo a perder. No Ritmo do Coração talvez seja para mim a grande surpresa do ano, já que fui assisti-lo sem expectativa alguma e terminei encantado com tudo que vi. É um filme que, acima de tudo, fala sobre inclusão, mas também sobre família, amor e sonhos.

9. Caros Camaradas! Trabalhadores em Luta, de Andrei Konchalovsky (Rússia)


O enredo se baseia num fato verídico que ocorreu na União Soviética em 1962, e que ficou conhecido posteriormente como Revolta de Novocherkassk. Em plena guerra fria, onde Stálin já havia morrido e o país vivia entre altos e baixos na economia, um grupo de trabalhadores decide se revoltar contra o aumento abusivo dos preços nos mercados e a baixa do salário recebido numa fábrica de locomotivas. A revolta sai do controle quando trabalhadores de outras fábricas se unem ao ato, e o governo russo resolve conter as manifestações com violência. Os acontecimentos são mostrados sob o ponto de vista de Luydmilla (Yuliya Vysotskaya), uma forte militante do partido comunista que trabalha numa cúpula do governo municipal. É através dela que acompanhamos o movimento do governo para conter a greve e a crescente preocupação interna de que a revolta poderia manchar a imagem de prosperidade do regime. A protagonista é bastante complexa, pois ao mesmo tempo que reconhece que as coisas não andam bem no país, ela não recua em defender o regime a todo custo, inclusive a força policial descabida para conter os protestos. Não é um filme que critica uma ideologia específica, mas sim, todos os governos autoritários que agem com truculência e tentam maquiar seus erros e seus defeitos.

8. Aranha, de Andrés Wood (Chile)


Dezessete anos depois do excelente Machuca, o diretor Andrés Wood volta a abordar o período pré-ditadura militar no Chile com Aranha, filme que representou o país no Oscar de 2020 e que só agora em 2021 chegou aos cinemas brasileiros. O foco do roteiro é nas ações do grupo nacionalista Patria Y Libertad, uma organização paramilitar de extrema direita surgida nos anos 1970 e que tinha um símbolo semelhante a uma aranha. O grupo realizou uma série de atentados e colaborou no golpe contra o governo eleito de Salvador Allende, o que veio a resultar num dos governos de exceção mais sanguinários da história comandado por Augusto Pinochet. O roteiro se passa em dois períodos distintos, os anos pré-ditadura (1970-1973) e os anos atuais, com os membros do grupo já envelhecidos e vivendo uma vida aparentemente normal. É interessante ver como, mesmo depois de muitos anos, os personagens seguem com as mesmas ideias, ainda que por conveniência tenham que disfarçar muito bem, já que no Chile a questão da ditadura é uma ferida que é levada muito a sério (quem dera também fosse assim aqui no Brasil).

7. Nomadland, de Chloé Zhao (Estados Unidos)


Vencedor do Óscar de melhor filme, Nomadland acompanha Fern (Frances McDormand), uma mulher que ficou desamparada depois que a empresa onde trabalhava fechou as portas por conta da crise econômica que assolou os EUA em 2008. Sem trabalho fixo e sem casa, Fern passa a atravessar as estradas do país fazendo bicos, enquanto dorme em sua van e enfrenta todo tipo de adversidades. Na sua jornada, Fern vai conhecendo outras pessoas que vivem a mesma situação dela, de marginalização, inclusive uma comunidade nômade, onde faz amizades e finalmente se sente parte de algo maior. O roteiro tem um ar documental, até pelo fato de juntar ao elenco pessoas que realmente vivem essa realidade na pele diariamente. É bem emocionante ouvir os relatos deles, alguns inclusive dos quais jamais esquecerei. São abordados assuntos como o sistema de aposentadoria, a chegada da idade e o peso de se viver numa sociedade injusta e desigual. Trata-se de um filme grandioso na sua simplicidade e que desperta os sentimentos mais diversos com muito pouco.

6. Nós Duas, de Filippo Meneghetti (França)


Representante da França no Oscar 2021, Nós Duas é um drama sobre duas mulheres fortes, que precisam esconder seus sentimentos numa sociedade que ainda é coberta de preconceitos e tabus. Madeleine (Martine Chevallier) e Nina (Barbara Sukowa) são vizinhas, e mantém um relacionamento amoroso há mais de uma década. Para os familiares de ambas, elas são apenas grandes amigas, que na solidão da terceira idade fazem companhia uma a outra. Cansadas de viverem essa "mentira", elas planejam contar tudo e se mudar juntas para a Itália, porém um infortúnio acaba deixando Madeleine muito doente, tirando totalmente sua liberdade e dificultando a realização desse sonho. Amor e libido na terceira idade ainda são de fato um tabu, ainda mais entre duas pessoas do mesmo sexo, e o filme aborda isso com muita delicadeza.

5. Agente Duplo, de Maitê Alberdi (Chile)


Realidade ou ficção? Essa dúvida paira no ar em alguns momentos durante a exibição de Agente Duplo, um documentário diferente de tudo que eu já havia visto até então no gênero e que foi o representante do Chile no Oscar 2021. Uma mulher entra em contato com uma agência de detetives para descobrir como sua mãe está sendo tratada em um asilo, e após um anúncio no jornal, vários idosos na faixa de 80 anos são entrevistados para um deles entrar como "espião" na casa de repouso e passar informações de como está sendo tratada a idosa. Sergio é o escolhido, e passa a conviver com os moradores do asilo como se fosse um interno de verdade, ouvindo histórias, lembranças, queixas e até mesmo despertando paixões. Aos poucos vamos sabendo mais da vida de cada um deles apenas pelas conversas com Sérgio, e é impossível não se emocionar com o que vemos. O que era para ser um filme denúncia, acaba se transformando num tocante filme sobre o cotidiano da velhice e da sua solidão.

4. Judas e o Messias Negro, de Shaka King (Estados Unidos)


Baseado numa história real, o enredo se passa em 1968 e começa acompanhando William O'Neal (Lakeith Stanfield), um ladrão de carros que é capturado pelo FBI e tem duas opções: ir para a cadeia por alguns anos ou realizar uma missão como infiltrado no partido dos Panteras Negras em troca da sua liberdade. Na mesma época, o presidente dos Panteras Negras em Illinois era Fred Hampton (Daniel Kaluuya), um jovem de 21 anos com ideais muito fortes e discursos efusivos. Aos poucos, William vai conquistando seu espaço no grupo e ganhando a confiança do próprio presidente, para quem ele passa a dirigir. Embora o roteiro foque nessa relação entre Fred e William, que como o nome do filme já sugere termina em uma tragédia bíblica, o diretor se preocupa em abordar muitas outras questões, e a principal delas é a forma como o governo dos EUA tratava qualquer forma de resistência que surgia, com extrema violência e repressão, além é claro, do racismo e da segregação existentes na época.

3. O Cego que Não Queria ver o Titanic, de Teemu Nikki (Finlândia)


As dificuldades e as adaptações de um homem que fica cego e paralítico por causa de uma doença degenerativa. Esse é o mote central desse filme dirigido pelo finlandês Teemu Nikki,que acompanha Jaakko (Petri Poikolanen), que antes de perder a visão era um apaixonado por cinema. Seus contatos com o mundo são seu pai, com quem fala diariamente por telefone, e Sirpa, que ele nunca encontrou pessoalmente mas se apaixonou após se conhecerem num aplicativo de relacionamento. Quando Sirpa fica doente e teme não ter muito tempo de vida, Jaako decide ir visitá-la na cidade onde ela mora, mas ele nunca havia saído de casa sozinho desde que ficou cego e as dificuldades logo aparecem, principalmente quando se depara com pessoas de má índole pelo caminho. A experiência de assistir esse filme foi intensa, chocante, mas ao mesmo tempo prazerosa pela qualidade acima da média.

2. Quo Vadis, Aida?, de Jasmila Zbánic (Bósnia)


As cicatrizes da guerra da Bósnia, que durou de abril de 1992 até dezembro de 1995, ainda doem na população daquela região, e isso reflete muito no cinema feito por lá. Quo Vadis, Aida?, da diretora Jasmila Zbánic, se passa no final do conflito e conta a história real do que ficou conhecido como genocídio de Srebrenica, o maior massacre ocorrido em terras europeias desde a Segunda Guerra Mundial. No cerne do enredo está Aida (Jasna Duricic), que trabalha como intérprete na sede da ONU e tenta ajudar nas negociações entre bósnios, sérvios e membros da ONU, enquanto do lado de fora mais de 30 mil pessoas buscam desesperadamente refúgio para fugir da morte certa. Quo Vadis, Aida? era o meu preferido para vencer o Óscar de melhor filme internacional deste ano.

1. Meu Pai, de Florian Zeller (Estados Unidos)

 

O filme acompanha Anthony (Anthony Hopkins), um senhor na faixa dos 80 anos que está começando a dar sinais de demência e cuja filha (Olivia Colman) faz de tudo para tentar ajudá-lo. O tema já foi abordado muitas vezes no cinema, mas não lembro de ter visto algo igual ao que vi aqui. Com uma estrutura labiríntica, típica de um filme de suspense, Zeller nos coloca na perspectiva de Anthony, fazendo com que tenhamos a mesma sensação de confusão do personagem, e acerta em cheio na forma que aborda essa deterioração da mente de uma pessoa já idosa, o dilema dos familiares em como resolver a situação do enfermo e principalmente a tristeza deles ao ver quem se ama chegar há um estado como este. Óscar de melhor ator mais do que merecido ao Hopkins, e para mim o grande filme do ano lançado no Brasil.

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