terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Crítica: Summer of Soul (2021)


Quando se fala em um grande festival de música que ocorreu em 1969 nos Estados Unidos, inevitavelmente nos vem à cabeça o festival de Woodstock, com sua mensagem de paz e amor que moldou uma geração. Porém, naquele mesmo ano, há cerca de 160 quilômetros de distância, acontecia outro festival de extrema importância e relevância cultural, mas que por diversos motivos ficou no ostracismo por mais de cinco décadas. Estou falando do Festival Cultural do Harlem, que reuniu em seis semanas cerca de 300 mil pessoas em um dos bairros mais pobres de Nova Iorque, e que com 50 anos de atraso chega ao conhecimento mundial nas mãos do produtor musical, ator e agora diretor Questlove.


Nos dias do evento, grandes artistas pisaram no palco, como Stevie Wonder, B. B. King e Nina Simone, deixando o público, majoritariamente formado por pessoas negras e pobres, em êxtase. Muitos na plateia jamais haviam assistido a um show, ainda mais de artistas negros, e é muito bonito ver essa identificação no olhar de cada um. Essas pessoas finalmente estavam se sentindo representadas, num misto de felicidade e esperança por dias melhores, em um período que parecia tudo perdido após a morte recente de grandes líderes do movimento negro como Malcolm X e Martin Luther King.

Mais do que um simples documentário sobre o evento, Summer of Soul é um verdadeiro documento histórico por trazer à tona as imagens do festival que ficaram 50 anos escondidas após terem sido rejeitadas por produtores na época, que não viam com bons olhos a efervescente cultura black sendo mostrada para o mundo todo. Além das imagens dos shows, o filme também apresenta entrevistas com pessoas que estavam lá, tanto no palco como na plateia, e outras dezenas de imagens de arquivo que contextualizam a situação da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e mostram o porque desse festival ter sido muito mais do que apenas um evento musical, mas sim, um manifesto da luta racial pela igualdade de direitos. Um filme necessário e histórico!

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