domingo, 26 de fevereiro de 2023

Crítica: A Baleia (2022)


Darren Aronofsky é um diretor bastante divisivo, e eu mesmo posso dizer que tenho uma relação de amor e ódio com suas obras. Gosto muito de O Lutador (2008) e considero Réquiem para um Sonho (2000) uma obra-prima, mas em contrapartida detestei alguns de seus filmes mais recentes como Cisne Negro (2010) e Mãe! (2017). Por conta disso, tentei não criar muita expectativa antes de assistir A Baleia (The Whale), mas desta vez já adianto: apesar de algumas ressalvas, eu gostei bastante do que vi.


O filme acompanha uma semana na vida de Charlie (Brendon Fraser), um homem obeso que pesa mais de 250 quilos e vive recluso em seu pequeno apartamento, onde ganha a vida dando aulas online de redação. De cara já percebemos que ele sente muita vergonha do próprio corpo, já que sequer liga a câmera na hora das aulas, dando a desculpa para os alunos de que ela está estragada. Ele também evita encontrar o entregador de comida, e obviamente não gosta de receber visitas. A única pessoa que o acompanha diariamente é Liz (Hong Chau), que leva mantimentos e o ajuda fazendo as tarefas básicas de casa, já que a mobilidade dele está extremamente reduzida. Em um primeiro momento ela até parece ser alguém contratada para o serviço, mas pouco a pouco vamos entendendo o grau de parentesco que existe entre eles, na medida em que o passado de Charlie começa a vir à tona.

Alguns anos atrás, Charlie largou sua esposa e sua filha de oito anos para viver com um ex-aluno, que um tempo depois veio a falecer. Desde sua morte, Charlie nunca mais foi o mesmo, tendo se afundado em uma depressão profunda que o levou a condição de obesidade. Sua filha (Sadie Sink), quando o reencontra depois de tanto tempo, nem o reconhece, e sente um misto de desprezo por ele ter se deixado chegar nessa situação e raiva, por ele ter abandonado ela pequena. Essa relação conflituosa vai ganhando forma quando, em troca da companhia dela durante o dia, ele a oferece dinheiro, e também promete fazer seus deveres de casa.

 
Poucos personagens aparecem além do trio principal e da ex-mulher de Charlie (Samantha Morton). Um deles é um missionário evangélico, Thomas (Ty Simpkins), que aparece na casa de Charlie e decidi que, de alguma maneira, ele precisa salvar a alma dele. Confesso que esse personagem e seu arco narrativo me pareceram um tanto quanto desconectados com o restante da trama, assim como também não gostei do desenvolvimento da personagem da filha, que é mostrada quase como um "monstro". Ela tem atitudes odiáveis o filme inteiro, algumas que inclusive beiram ao completo exagero, para então chegar no final e do nada resolver ter empatia. Isso definitivamente não foi nada verossímil.

Na parte técnica, é interessante analisar como Aronofsky usa uma tela 4x3 durante todo o filme, o que ajuda a criar um ambiente claustrofóbico e retrata ainda mais o sentimento de angústia do personagem. São espaços pequenos, escuros e melancólicos, assim como é a vida de Charlie. Mas é curioso também como apesar de todo o trauma e sofrimento, o personagem ainda continua com o coração puro, vendo bondade no mundo e sempre tendo uma visão otimista das coisas. A atuação do Brendon Fraser é, de fato, magistral, mas destaco também Hong Chau e Samantha Morton. Já Sadie Sink não me convenceu, mas creio que isso também seja culpa da sua personagem mal construída.
 
 
A Baleia (por sinal, o nome é dado por conta do livro que o personagem trabalha em suas aulas = Moby Dick) vem sofrendo duras críticas e está sendo até mesmo apontado como "gordofóbico", mas na minha visão foi totalmente o contrário disto, e na minha compreensão o tema da obesidade foi abordado com muito respeito. A obesidade mórbida, como a que o personagem possui, infelizmente é uma situação grave e complicada, que leva a muitas outras doenças, e o filme não foge de tratar essa questão como deve ser tratada. Ainda assim, é certo que o filme ainda irá render boas discussões nas próximas semanas, sobretudo com a chegada do Oscar e a boa possibilidade de Fraser vencer como melhor ator.
 

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