quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Crítica: Os Banshees de Inisherin (2022)


Já imaginou se o seu melhor amigo decide, de uma hora para outra, que não gosta mais de você e que a amizade precisa chegar ao fim porque você é um "chato"? Términos de relacionamentos amorosos já fazem parte do cotidiano do cinema, mas um término de amizade é algo que, confesso, eu nunca havia visto. Pelo menos não desta forma. O novo filme do diretor Martin McDonagh, do excelente Três Anúncios para um Crime, usa este insólito acontecimento para versar sobre a fragilidade dos relacionamentos pessoais de uma forma melancólica mas ao mesmo tempo engraçada e muito, muito peculiar.


Os Banshees de Inisherin se passa em uma ilha remota da Irlanda, onde os poucos moradores vivem uma vida extremamente pacata no final dos anos 1920. Neste cenário vive Pádraic (Colin Farrell), que inicia o filme indo buscar o seu velho amigo Colm (Brendan Gleeson) para eles beberem juntos no bar local, algo que aparentemente fazem todos os dias. Colm, no entanto, começa a agir de forma estranha e demonstra não querer mais a presença de Pádraic, o que deixa o rapaz cada vez mais intrigado, principalmente por não ter feito nada que justificasse isso.

A partir de então, começam a surgir vários questionamentos. Quais seriam os motivos de Colm para não querer mais a companhia do amigo de tantos anos? E será mesmo que eles eram tão amigos assim? Pouco se sabe, já que não temos nenhuma informação do que ocorreu antes disto, mas naturalmente há uma predisposição natural de sentirmos pena de Pádraic, afinal de contas, a rejeição de alguém que a gente gosta pode ser um sentimento terrível e cair como uma bomba para um personagem que demonstra ser bastante sensível. No entanto, na medida em que os dias vão passando, é possível entender melhor os motivos de Colm, que apenas está em outra sintonia no momento, querendo focar em fazer uma música nova com seu violino sem ter ninguém em volta para incomodá-lo com "conversas jogadas fora".

O dilema passa a ficar perigoso quando Pádraic nitidamente não aceita bem esse fim de amizade e começa a correr atrás do amigo, forçando uma reaproximação. O embate que surge logo no começo é sustentado por duas horas de uma forma muito competente, absorvendo o espectador com o uso de um humor muito sutil e perspicaz. A fotografia fria e melancólica é encantadora, com destaque para as belas paisagens bucólicas da ilha. É interessante perceber que, por ser um espaço pequeno, nós acabamos fazendo um mapa mental de onde os personagens circulam, sabendo exatamente para onde estão indo ou de onde estão voltando.


As atuações, no meu ponto de vista, acabam fazendo toda a diferença aqui. Colin Farrell está incrível no papel principal, mas quem brilha de fato é Gleeson, que nos apresenta um dos melhores personagens coadjuvantes do cinema nos últimos anos. Ainda destaco Siobhán Condon, que faz a irmã de Pádraic, e Barry Keoghan, que faz o personagem tido como "louco" da vila, e que também tem ótimas aparições. Por fim, com um ritmo lento mas extremamente instigante, Os Banshees de Inisherin acaba sendo uma das melhores surpresas neste início de ano, e merece todo o reconhecimento que vem tendo na temporada de premiações.


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