sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Crítica: To Leslie (2022)


A indicação de Andrea Riseborough ao Oscar de melhor atriz pegou a todos de surpresa e gerou uma grande polêmica por conta da forma como foi feita a sua campanha de divulgação: através do famoso boca a boca entre os membros da Academia e também pelas redes sociais, o que foge totalmente da regra. Discussões à parte, o fato é que se analisarmos apenas a sua atuação, a indicação acaba sendo realmente merecida, já que ela realmente brilha em uma história simples mas bastante tocante.


Em "To Leslie", filme do diretor Michael Morris, Riseborough interpreta uma mãe solteira que ganhou 190 mil dólares em uma loteria local. O filme logo dá um salto de seis anos, onde vemos Leslie totalmente desequilibrada, sendo despejada de um quarto de motel por não pagar o aluguel, e sofrendo duramente as consequências de suas escolhas erradas do passado. Ela nitidamente não soube administrar a bolada que recebeu e torrou tudo em muito pouco tempo, sobretudo com álcool. Sem emprego, sem casa, e portando apenas uma maleta com seus objetos pessoais, ela vive uma realidade decadente e sem futuro, e quando recebe oportunidades parece fazer questão de jogar tudo fora.

Após passar por situações muito delicadas e chegar a ter que dormir na rua, Leslie acaba recebendo a grande chance de finalmente reencontrar um rumo na vida ao ser admitida para trabalhar como arrumadeira em um motel de estrada, em troca de um pequeno salário e de poder dormir no local. A partir de então se cria uma relação amigável e curiosa entre ela e Sweeney (Marc Maron), o homem que lhe dá o emprego e que administra o local junto com o dono, Royal (Andre Royo).

A protagonista é muito humana e divide os sentimentos do espectador a todo momento. É interessante como você acaba torcendo para que ela se encontre e consiga ter uma vida melhor, mas ao mesmo sente repulsa por algumas das suas atitudes, sobretudo com o filho James (Owen Teague). Ao voltar para a sua terra natal, todos a olham com um certo desprezo, quase como se a considerassem uma louca, o que acaba sendo até justificável pela sua própria conduta.


Durante as duas horas do filme, Leslie é usada por outras pessoas, mas de certa forma também se aproveita de outras, e sempre carrega uma amargura muito grande do mundo que a cerca, que é bem perceptível em seu olhar. E é aí que entra a grande atuação de Riseborough, que conduz com maestria essa personagem tão complexa e de personalidades tão contrastantes, e que por si só já faz valer o filme inteiro. Diferentemente da indicação, se ela ganhar o prêmio no Oscar não será surpresa alguma.


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