quarta-feira, 7 de maio de 2014

Crítica: Tom na Fazenda (2014)


Com apenas 24 anos e quatro filmes na carreira (todos aclamados pela crítica), o ator e diretor Xavier Dolan já deixou de ser uma promessa para se tornar um dos diretores mais respeitados da atualidade. Assumidamente gay, praticamente todas as suas obras abordam a temática homossexual, porém sem os exageros estéticos ou situações apelativas típicos de muitos dos filmes do gênero e sim de forma adulta e madura.


Com Tom na Fazenda (Tom à la Ferme) não é diferente. Baseado na peça de Michel Marc Bouchard, a trama acompanha o jovem Tom (interpretado pelo próprio Dolan), um publicitário que vive em Montreal e que acabou de perder o seu companheiro em um acidente. O enredo se desenvolve através da viagem que ele faz à fazenda da família do ex-companheiro para o seu funeral, e o quanto ela muda para sempre a sua vida.

Ao chegar no local, ele conhece Agathe (Lise Roy), a mãe de Guillaume (o jovem morto), e seu irmão Francis (Pierre-Yves Cardinal), que ele nem sabia da existência. Logo percebe que Agathe desconhecia a verdadeira opção sexual do filho, e que estava esperando na verdade uma namorada mulher. Francis no entanto sabia, e passa a ameaçar Tom caso ele conte a verdadeira história do seu irmão.


No início não sabemos qual a verdadeira relação de Tom com Guillaume. A princípio, eles eram apenas colegas e amigos de trabalho, e em nenhum momento, nem mesmo no final, o diretor deixa explícito que houve uma relação amorosa entre os dois. Pelo contrário, fica tudo implícito nas palavras, nos olhares e nas ações.

Sob pressão, Tom logo se vê obrigado a mentir sobre uma falsa namorada, chamada Sarah, e é interessante como ele passa a colocar todos os seus sentimentos na figura dessa pessoa inexistente, enquanto fala para para Agathe o quanto ela amava e desejava seu filho. Outro ponto interessante é que o diretor não foca a história na relação de Tom com Guillaume, mas sim na forma como Tom precisa lidar com o desfecho de tudo.


O desfecho, por sinal, culmina em uma nova relação de dependência de Tom junto à família, quando esse se aproxima do irmão e ambos passam a ter uma relação forte que pode ser vista tanto como amizade como atração sexual. Impossível não fazer um paralelo com a frase inicial do filme: "Hoje uma parte de mim morreu e eu não posso chorar, pois esqueci todos os sinônimos para tristeza. Agora, tudo o que posso fazer sem você é substituí-lo". É simplesmente brilhante!

A personalidade dúbia de Francis dá ao personagem uma cara enigmática e misteriosa. Ele se ressente de ter 30 anos e ainda morar com a mãe, mas não vai embora porque sabe que ela não sobreviveria sozinha. No entanto quando Tom aparece no local, há uma grande mudança em sua cabeça, e vemos uma explosão de sexualidade nele que aparentemente estava enrustida.

As atuações são excelentes, e se encaixam com o clima de suspense sufocante. O final é subjetivo, e acaba deixando uma incógnita na cabeça do espectador, principalmente pela mudança constante de foco (uma hora é em Tom, outra hora é em Francis, outra hora é no passado de ambos). A fotografia também chama a atenção, misturando belas locações em um clima bastante claustrofóbico.


Por fim, Dolan mostra que cresceu muito, e traz o melhor filme da sua carreira até então. Dessa vez ele não só agradou aos fãs, como também o público em geral. Numa visão fria sobre a história, ele tenta mostrar a dificuldade que ainda existe de homossexuais se assumirem perante a família, mas depois de assistir o filme, a gente percebe que vai muito além disso.


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