terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Crítica: Jojo Rabbit (2020)


Quando foi lançado no Festival de Toronto, Jojo Rabbit dividiu muito a opinião da crítica. De um lado, alguns acharam genial a ideia do diretor Taika Waititi em mostrar o nazismo na Segunda Guerra de forma sarcástica, porém de outro, teve quem achou desrespeitoso com as vítimas tratar um assunto tão pesado de forma "divertida". O fato é que, polêmicas a parte, o filme é extremamente necessário e já entra para a lista dos melhores do ano.



Jojo Betzler (Roman Griffin Davis) é um menino típico da juventude hiterilista. Treinado em um acampamento militar para crianças, comandado pelo capitão Klenzerdorf (Sam Rockwell), o menino é a personificação da lavagem cerebral feita pelo exército alemão na época. Ele bate no peito e diz se orgulhar de ser nazista, se considera superior por ser da raça ariana, e mesmo sem conhecer nenhum judeu pessoalmente sente nojo de tudo que tenha a ver com eles.

Seu comportamento advém exclusivamente destes treinamentos militares, já que em casa a sua mãe, Rosie (Scarlett Johansson), desde o primeiro momento demonstra ser contrária aos ideais de Hitler. Ela porém esconde isso até mesmo do filho, por ter medo dele contar na escola e isso trazer sérias consequências. Sua rejeição ao governo nazista vai sendo mostrada através de pequenos gestos e diálogos seus, mas fica ainda mais evidente quando descobrimos que ela está escondendo dentro de um buraco na casa a menina judia Elsa (Thomasin Mckenzie).


O filme vai ganhando forma e ficando complexo com o decorrer do tempo, principalmente depois que Jojo descobre a existência da menina atrás da parede. Apesar da relutância no começo, de ambos os lados, ele e Elsa vão conversando e se conhecendo melhor, e sob o pretexto de escrever um livro sobre os judeus, ele passa a fazer inúmeras perguntas para ela sobre os costumes e as origens desse povo. É curioso acompanhar como nessas conversas vão sendo desconstruídas todas as ideias que Jojo havia criado sobre os judeus na escola, pois ele vai enxergando, aos poucos, que não há nada de diferente entre eles.

Depois de um determinado acontecimento, o drama toma conta de vez da estória e não há mais como voltar atrás. O roteiro que trazia um bom humor no começo, principalmente por conta da figura de Adolf Hitler (interpretado pelo próprio diretor Taika Waititi) que aparece inúmeras vezes como um amigo imaginário de Jojo, ganha um ar bem melancólico, como um típico filme sobre o período. Jojo finalmente se dá conta da realidade em que está inserido e que, sem querer, estava fazendo parte, e o grande mérito do filme é justamente mostrar esse conflito interno do personagem, que vai percebendo a fragilidade do discurso de ódio e passa a rever suas convicções.


De todas as qualidades que o filme possui, a principal talvez seja a grande atuação do menino Roman Griffin Davis, que chegou a ser indicado ao Globo de Ouro de melhor ator já no seu primeiro trabalho no cinema. Roman entrega uma atuação firme, sem exageros, e sabe carregar muito bem essa dualidade que existe no filme entre humor e drama. Quem também está bem nesse quesito é Scarlett Johansson, cuja atuação lhe rendeu até mesmo indicação ao Óscar.

Tocante, divertido e super profundo, Jojo Rabbit aborda o tema com muita inteligência e sensibilidade, e ao trazer uma sátira sobre a alienação do povo alemão na época da Segunda Guerra, já aproveita também para acenar contra o crescimento de adeptos do neonazismo na atualidade. Um filme necessário para conscientização, e sobretudo para mostrar que aquilo que aconteceu no passado nunca mais pode chegar nem perto de se repetir.

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