terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Crítica: Uma Vida Oculta (2020)


Sou fã do trabalho de Terrence Malick, até mesmo do injustiçado A Árvore da Vida, e por isso fui com bastante expectativa assistir Uma Vida Oculta (A Hidden Life), que é baseado na história real e desconhecida de Franz Jaggerstatter, um objetor de consciência que preferiu a morte a aceitar jurar lealdade a Hitler. Confesso a vocês que terminei o filme um pouco decepcionado com o que vi, e explico o porque nas próximas linhas.


O filme começa em 1939, no interior da Áustria, onde Franz (August Diehl) vive com a esposa (Valerie Pachner) e com os filhos. A primeira metade do longa flui bem, mostrando o dia-dia de suas vidas tranquilas trabalhando na colheita e no trato dos animais. Nesse tempo Franz chega a ser chamado para o exército duas vezes, mas após um curto treinamento consegue a dispensa. Porém, na terceira, já em 1943, ele não consegue escapar, e é convocado a se apresentar ao exército de Adolf Hitler junto a outras centenas de soldados.

Resistente ao nazismo, Franz se negou a fazer o juramento político de lealdade logo ao chegar no quartel, e por isso acabou preso, acusado de ir contra o regime. A segunda metade do filme se passa toda nesse período da sua prisão, e é aí que ele parece perder o ritmo, se tornando absurdamente maçante. A narrativa lenta é, na maior parte do tempo, transcrita por uma narração em off dos personagens, tendo pouquíssimos diálogos interpessoais, característica já presente em outras obras de Malick mas que aqui se tornou repetitiva.


Outro fato que atrapalha um pouco a experiência é o uso dos idiomas no filme. Não incomodaria tanto o fato dele ser falado em inglês se não houvessem interferências do alemão no meio. Por exemplo, enquanto o personagem principal fala inglês (mesmo sendo austríaco), os guardas xingam em alemão, e isso cria uma miscelânea de linguagens que deixa tudo pouco verossímil. Também achei as atuações bem fracas, com destaque apenas para Bruno Ganz, que faleceu em fevereiro do ano passado e teve aqui sua última participação nas telas.

Porém, nem tudo é digno de reprimenda no filme. Achei muito interessante a utilização das cenas de arquivo dos comícios nazistas da época, grande parte feitas pela cineasta de propaganda do governo Leni Riefenstahl. Outro fator interessante é mostrar como a vizinhança passou a julgar Franz antes dele ir para o exército, e posteriormente como passaram a agir com os membros de sua família. Homens e mulheres que tinham a mesma rotina, mas que passaram a enxergá-los como vilões apenas por serem contrários ao regime.


Terrence é associado a um cinema de belas imagens, contemplativo, e aqui ele não foge à regra. A fotografia do filme é realmente encantadora, em mais uma parceria do diretor com Jorg Widmer, mas infelizmente um filme não sobrevive apenas disso. Sua beleza estética acaba sendo pouco para a desconjuntura de todo o resto, o que torna o filme descartável no geral.

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