sexta-feira, 15 de maio de 2020

Crítica: The Assistant (2020)


Nos últimos anos, dezenas de casos de abusos e assédios no ambiente de trabalho vieram à tona, culminando no movimento denominado Me Too. A indústria do entretenimento foi uma das que mais teve casos denunciados, entre eles o do famoso produtor Harvey Weinstein, preso no começo deste ano. O filme de Kithy Green não cita, diretamente, nenhum nome, mas versa sobre o assunto apresentando um produtor de cinema e sua assistente.


A trama acompanha uma jovem chamada Jane (Julia Garner), que trabalha como secretária no escritório de um conhecido produtor de filmes e séries. Seu sonho é crescer na carreira e também se tornar uma produtora de sucesso, mas aos poucos ela vai percebendo que isso é muito mais difícil do que ela imaginava por ainda se tratar de um ambiente majoritariamente masculino e machista.

A premissa era bem simples, mostrar justamente como Jane lida com esse machismo diariamente no trabalho, porém a narrativa deixa muito a desejar desde os primeiros minutos, com um ritmo exageradamente lento e sem nenhum atrativo. Para se ter uma ideia, durante os primeiros 30 minutos de exibição nós apenas acompanhamos a rotina de Jane com coisas triviais, como servir um café, fazer cópias na impressora ou atender ao telefone. Chega um momento que você pensa "ok, mas quando o objetivo de tudo isso?" e a resposta parece não vir nunca, nem após o final.



Compreendo, sim, que a ideia da direção talvez tenha sido mostrar justamente um ambiente onde tudo acontece e ao mesmo tempo nada acontece. Jane vê o abuso ocorrendo bem na sua cara, não somente com ela mas com sua nova colega, e tenta falar com alguém que possa ajudá-la. Em contrapartida, a única coisa que ouve é que, se seguir em frente com as denúncias, terá a carreira finalizada antes mesmo de começar, o que explica o porque de, muitas vezes, as vítimas ficarem em silêncio por tantos anos.

A diretora opta por apresentar aqui um "vilão", que seria aqui o chefe de Jane, mas sem que ele sequer apareça, como se fosse algo abstrato. Conhecemos ele apenas pela sua voz, e para mim esse exercício narrativo não funcionou. A protagonista se sai bem no papel, apesar de não ter muito a que mostrar pois o roteiro não lhe dá esta oportunidade.



O assédio no ambiente de trabalho infelizmente ainda é uma realidade dura de se combater, não somente no mundo do entretenimento mas também em empresas de outros diversos seguimentos, e é importante que o tema seja cada vez mais debatido para que alcance mais e mais pessoas. Por isso, é uma pena ver que mais uma vez um assunto tão importante e cheio de potencial tenha sido desperdiçado em um filme tão vazio, como já havia acontecido também este ano com O Escândalo.


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