sexta-feira, 29 de maio de 2020

Dez ótimos filmes do século XXI com fotografia em preto e branco

Apesar do cinema ter conhecido as cores lá na década de 1930, ainda hoje, em pleno século 21, alguns diretores gostam de optar pelo uso da fotografia preto e branca em seus filmes, como um argumento estético que ajuda a dar um clima para o filme que talvez não funcionasse com o uso de uma paleta colorida. Eu acho lindo o uso desta técnica, mas é importante que não seja algo exagerado ou sem propósito, pois pode parecer pedante e jogar tudo a perder. Abaixo fiz uma lista com dez ótimos exemplos de filmes que usaram esse recurso e deu muito certo.

1. O Pássaro Pintado, de Václav Marhoul (2019)

A trama acompanha um menino judeu que foi deixado aos cuidados da avó durante a Segunda Guerra Mundial, em um vilarejo hostil, isolado e no meio do nada. Após sua vó falecer, ele começa a perambular pelas florestas e vilas da região, encontrando todo o tipo de pessoas e situações e sofrendo com a brutalidade do ser humano. É um filme pesadíssimo, mas com uma das fotografias mais fascinantes que eu já vi na vida.

2. Frantz, de François Ozon (2016)

Numa cidade alemã, logo após o término da Primeira Guerra Mundial, vive Anna (Paula Beer), uma mulher forte que visita todos os dias o túmulo do seu noivo, Frantz, morto em um combate na França. Certo dia ela percebe um homem misterioso, que ela jamais havia visto na cidade, deixando flores na lápide do ex-marido. Curiosa, ela descobre se tratar de Adrian (Pierre Niney), um francês que foi amigo de Frantz em Paris antes da guerra começar. Pouco a pouco Adrien vai ganhando a confiança da família de Frantz, contando histórias da amizade entre os dois, mas um segredo promete pôr tudo a perder. É um roteiro caprichado, com diálogos muito intensos e poéticos sobre a vida e a guerra.

3. Branca de Neve, de Pablo Berger (2012)

Com várias referências e bebendo da mesma essência do famoso conto de fadas, Branca de Neve traz uma nova roupagem ao clássico escrito pelos irmãos Grimm ao acompanhar Carmencita, uma menina que sofre nas mãos da madrasta, sendo obrigada a trabalhos forçados e a dormir em um porão. Após um acidente, ela é encontrada por um grupo de anões toureiros (sete, como no conto original), e sem lembrar de nada do passado, ela decide sair pelas estradas acompanhando o grupo e suas aventuras. Além da fotografia em P&B, o filme também é mudo, o que faz a imersão nessa linguagem antiga ser ainda maior.

4. Gueros, de Alonso Ruizpalacios (2014)

Gueros acompanha um garoto que vai morar com o irmão mais velho após ser rejeitado pelos pais. O irmão, um universitário em greve, se junta a ele na busca por um ídolo da infância, em meio ao clima de revolta estudantil que pedia, dentre outras coisas, o fim das privatizações do ensino público. É um filme que levanta muitas questões e reflexões sobre a vida, a educação dos jovens e a sociedade em si.

5. Nebraska, de Alexander Payne (2013)

Após receber um panfleto de propaganda na caixa de correios, Woody (Bruce Dern) acredita ter ganhado uma bolada de 1 milhão de dólares. Apesar de todos o alertarem, ele teima em ir até a cidade de Lincoln, no estado de Nebraska, para receber a quantia, nem que para isso tenha que ir a pé. Por isso, ele sai a caminhar pela estrada sem avisar ninguém. Após quatro tentativas frustradas, o filho (Will Forte) decide ajudá-lo e leva ele no seu carro. A perspectiva do dinheiro faz muita gente se aproximar de novo de Woody, com intuito de "tirar uma casquinha", e essa é uma das partes mais interessantes do filme. A outra é a relação pai e filho, que se intensifica quando o homem começa a descobrir coisas do passado do pai que ele nem imagina durante a viagem.

6. The Great Buddha +, de Huang Hsin-yao (2017)

O filme acompanha Picles (Cres Chuang), um homem que trabalha como vigia de uma fábrica de estátuas de bronze, onde estão construindo um grande Buda. De noite, quando tudo está vazio, ele chama um amigo, que também trabalha na fábrica, para juntos jogar conversa fora, ver revistas pornôs e assistir as câmeras de segurança que o dono da fábrica instalou no seu próprio carro como medida de segurança. Nessa brincadeira, eles testemunham algo pelo qual eles não estavam preparados para ver. O enredo tem diálogos bastante poéticos, e o que mais chama a atenção é o uso esporádico de cores, em objetos específicos, que são usados para salientar alguma ideia.

7. Na Ventania, de Martti Helde (2014)

No princípio da década de 40, em meio à Segunda Guerra Mundial, mais de 40 mil pessoas foram deportadas ds Estônia, da Letônia e da Lituânia em direção à Sibéria durante o regime Stalinista. Com uma narrativa diferenciada e um enredo muito sensível, o diretor estreante Martti Helde nos conta um pouco dessa história sob a narrativa de Erna, uma mulher que foi obrigada a ir para campos de trabalhos forçados junto com os filhos. Através de cartas, ela se corresponde com o marido, que está preso em outro local, também comandado pelos soviéticos.


8. O Homem Que Não Estava Lá, de Ethan Coen e Joel Coen (2001)

Este filme é, acima de tudo, uma belíssima homenagem dos irmãos Coen ao cinema noir clássico do início do século 20. Isso vai desde os cartazes da produção, feitos à moda antiga, até o seu enredo e a sua fotografia em P&B. A trama se passa nos anos 1940 e acompanha um barbeiro que descobre que sua esposa estava o traindo e decide se vingar dela para lhe dar uma lição. O plano, no entanto, sai todo errado, gerando uma série de consequências terríveis na vida dele.

9. O Ano de 1985, de Yen Tan (2018)

O filme acompanha um jovem que está morando longe dos pais há três anos e está retornando à casa da família para uma ceia de Natal. Seria algo natural, não fosse o fato dele estar escondendo uma tragédia pessoal, além de estar diagnosticado com AIDS, precisando contar isso para uma família religiosa e conservadora que não fazia ideia de sua orientação sexual. O filme foge do convencional e traz uma abordagem extremamente delicada, focando na dor interna e silenciosa do personagem por ter que esconder das pessoas que mais ama aquele que ele verdadeiramente é.


10. Heleno, de José Henrique Fonseca (2011)

O filme narra a história de Heleno de Freitas, jogador que fez sucesso no futebol do Rio de Janeiro nos anos 1940. Ao mesmo tempo em que apresentava um enorme talento em campo, Heleno também sabia como ninguém se meter em confusões fora dele, e o seu comportamento arrogante e egocêntrico acabou terminando com sua carreira antes dele realizar o sonho de jogar uma Copa do Mundo pela seleção. A fotografia desse filme é um primor, e nos transporta diretamente para a época em que ele se passa.

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