terça-feira, 19 de maio de 2020

Crítica: La Belle Époque (2020)


Três anos após o ótimo Monsieur e Madame Adelman, o francês Nicolas Bedos volta aos cinemas com La Belle Époque, que mistura drama com comédia na medida certa para nos fazer refletir sobre o nosso próprio passado.



Victor (Daniel Autail) é um sexagenário que está desiludido com a vida após mais uma briga com a esposa Marianne (Fanny Ardant) e a definitiva separação. Sem emprego e sem perspectiva pro futuro, ele busca refúgio na empresa criada por Antoine (Guillaume Canet), que promete lhe trazer de volta a alguma época do passado. Mas não se engane, não se trata de uma viagem no tempo, pelo menos não de forma literal. A empresa consiste em usar cenários e figurantes para recriar a época que o cliente desejar, seja algo na história do mundo ou alguma memória pessoal. Victor, por sua vez, escolhe voltar a 1974, ano em que conheceu Marianne, numa tentativa de tentar sentir de novo aquele sentimento bom.

É interessante parar para pensar se existisse uma empresa como essa na realidade, e como cada cliente utiliza ela de forma diferente. Alguns querem se sentir dentro de momentos históricos, como um jantar na casa de um rei ou na cúpula do governo nazista, outros já preferem reviver algo da própria memória, como um encontro do passado, seja para relembrar um momento bom ou até mesmo tirar um peso da consciência resolvendo assuntos que ficaram mal resolvidos. Um dos momentos mais marcantes para mim é o personagem que quer reencontrar o pai para falar coisas que ele não conseguiu falar enquanto ele estava vivo.



O enredo nos faz refletir sobre essa nostalgia do passado, sobre arrependimentos e frustrações. Se existisse na vida real, que momento você gostaria de reviver? Algo bom, que te marcou positivamente, ou algo que você se arrepende e gostaria de, pelo menos de forma fictícia, consertar? Acima de todas essas discussões, o filme fala sobretudo a respeito do amor. Como falei anteriormente, Victor está voltando a 1974 para reviver o momento em que conheceu e se apaixonou por Marianne. Fica nítido que ele quer reviver aquilo para sentir novamente o que é estar apaixonado pela única mulher que amou em toda a sua vida, já que o sentimento se desfez com o tempo. Ou será que não se desfez, e estava apenas escondido, precisando de algo para reacender?

Com boas atuações e uma bela trilha sonora, La Belle Époque é um filme envolvente que mexe com as nossas emoções. Cada um de nós carrega dentro de si algo do passado que gostaria de relembrar, por mais que muitas vezes a gente se negue a confessar. A vida passa, o tempo corre, e como não podemos controlar essa dinâmica inexorável da vida, só o que nos resta são as lembranças. Que grande obra!


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