segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Crítica: O Céu de Alice (2022)


Com uma estética bastante teatral, O Céu de Alice (Sous le Ciel d'Alice) marca a estreia primorosa de Chloé Mazlo na direção de um longa-metragem, e mostra como uma guerra pode afetar a vida de cidadãos comuns de uma maneira drástica e irreversível.


O longa acompanha Alice (Alba Rohrwacher), uma jovem que deixa a casa dos pais na Suíça para ganhar a vida como babá em Beirute, capital do Líbano, nos anos 1950. Lá ela conhece Joseph (Wadji Mouawad), um astrônomo que sonha em levar o primeiro libanês ao espaço, com quem ela se casa e tem uma filha chamada Mona. Boa parte do desenrolar dessa relação e do crescimento da filha é mostrada em timelapse, numa única cena, acelerando o tempo para quando a menina já está na adolescência e o Líbano começa a sofrer com conflitos e bombardeios.

A partir deste momento, o tom do filme, que até então era leve, ganha contornos de angústia quando passamos a acompanhar o dia a dia da família diante das notícias dos ataques, que estão cada vez se aproximando mais de sua casa. O medo estampado em cada um dos personagens e a incerteza do dia de amanhã causa conflitos até mesmo dentro de casa, e começa a pôr em risco o relacionamento de Alice e Joseph.


Eu fiquei impressionado com a capacidade criativa da diretora, que usa cenários incríveis no desenrolar da trama, além de apresentar situações bem inusitadas. Inclusive, me lembrou um pouco o estilo de direção do Michel Gondry, que é um diretor que gosto muito. O filme ainda tem espaço para fazer críticas ácidas à forma como a política intervia (ou não intervia como deveria) no conflito. Única coisa que senti falta foi de uma contextualização maior a respeito da guerra e dos seus motivos, mas não chega a tirar o poder que esta obra tem. Visto no My French Film Festival 2022, O Céu de Alice é uma ótima estreia de uma diretora que promete muito daqui para frente.

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