quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Crítica: A Pior Pessoa do Mundo (2022)


Somos seres indecisos, controversos e às vezes até mesmo, porque não, cruéis. Mas isso não nos faz a pior pessoa do mundo, por mais que tenhamos essa impressão quando tudo parece dar errado. Abordando essas nossas imperfeições e fragilidades, o novo filme de Joachim Trier se divide em 12 capítulos, mais um prólogo e um epílogo, para contar alguns anos da vida de Julie (Renata Reinsve), que está naquela fase de transição (aproximadamente 30 anos) onde o tempo parece estar se esgotando para ela decidir os caminhos a trilhar.


Depois de fazer cursos como medicina e fotografia, mas não encontrar de fato o seu lugar neles, Julie ganha a vida trabalhando numa livraria, enquanto escreve artigos para um site. Ela também está casada com Aksel (Anders Danielsen Lie), um homem 10 anos mais velho, que ficou famoso ao criar um personagem de HQ. Desde o início dá para perceber que mesmo tendo muito amor na relação, existe um conflito grande de ideias entre os dois, principalmente por Julie não se sentir pronta para ter filhos e Aksel já estar numa idade em que pensa constituir uma família. Isso faz com que ela se sinta muito culpada, sobretudo quando percebe que todas as gerações anteriores à sua já tinham filhos com a sua idade.

No meio deste conflito interno, a vida de Julie fica balançada quando ela conhece um barista, que também está em um relacionamento, chamado Eivind (Herbert Nordrum). Aliás, o encontro dos dois tem uma das sequências mais legais que vi no cinema, onde eles tentam testar como forma de brincadeira, até onde é considerado ‘’trair’’ alguém. Os dois ainda são responsáveis por aquela que, para mim, é a grande cena do ano, em que o tempo literalmente pára e Julie consegue tomar uma decisão que impacta sua vida dali para frente.


Renata Reinsve está magnífica, e ouso dizer que foi uma das melhores atuações que vi nos últimos anos. O enredo também intercala bem entre humor e drama e tem ótimos diálogos. A transição entre um capítulo e outro, alguns com nomes bem subjetivos e irônicos, também é muito boa. Por fim, é um filme sobre decisões, sobre relações, mas principalmente sobre como a vida é maleável e pode mudar em um piscar de olhos. Com toda certeza, um dos melhores filmes do ano.

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