quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Crítica: Playground (2021)


O bullying que acontece dentro dos muros das escolas já foi trazido inúmeras vezes para a tela do cinema, mas sempre há espaço para uma nova forma de abordagem sobre o tema. Playground (Un Monde), da diretora estreante Laura Wandel, fala sobre essa prática focando, principalmente, no quão nocivo e violento o ambiente de um recreio escolar pode ser no psicológico de uma criança que sofre com isso.


Nora e Abel são dois irmãos que começam a frequentar uma nova escola juntos. Abel é bastante retraído e quieto, e não demora para ele começar a sofrer abusos violentos dos outros alunos, alguns inclusive de séries mais avançadas e maiores que ele. Nora tenta intervir chamando os funcionários da escola, que a ignoram por já ter outros problemas para resolver, e sentimos na pele a agonia da menina, que tenta de tudo para ajudar o irmão e se sente impotente diante da situação. Para piorar, Abel não quer ajuda e fica até mesmo bravo com ela por isso, já que isso seria um sinal de "fraqueza" da parte dele.

Tudo é mostrado sob a perspectiva das crianças, sobretudo de Nora, e a câmera fica praticamente o filme inteiro na altura delas. São pouquíssimos os rostos adultos que aparecem, e apenas quando se abaixam para conversar com algum dos pequenos. Temos aqui uma realidade nua e crua da escalada da violência, já que em determinado momento Abel pega tudo que fizeram contra ele e acaba descontando em outro, sendo apenas parte de um verdadeiro ciclo vicioso.


É interessante a maneira como o roteiro também mostra o quão cruel as crianças podem ser umas com as outras quando não tem adultos por perto para vigiar, e sabemos como isso é bastante real. Indicado pela Bélgica ao Oscar de filme estrangeiro em 2022, Playground chama a atenção por diversos motivos, desde o tema ao roteiro competente, mas principalmente pela atuação da menina Maya Vanderbeque, que está incrível.

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