domingo, 18 de dezembro de 2022

Crítica: Bardo - Falsa Crônica de Algumas Verdades (2022)


Alejandro González Inárritu chega ao seu sétimo filme solo na carreira, e por mais que alguns sejam bem divisivos, não dá para chamar nenhum deles de ruim. É impressionante a habilidade que ele tem de contar uma história, e eu sou um grande admirador do seu trabalho desde Amores Brutos, que foi inclusive um dos responsáveis por eu amar tanto o cinema latino-americano.


Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades é mais um filme que vai dividir muito as opiniões, e eu mais uma vez estou do lado dos que gostaram. O roteiro é uma grande viagem onírica por dentro da cabeça do diretor, abordando temas como a futilidade da sociedade atual, o dia a dia de quem deixa seu país natal para viver em outro, a chegada da idade que vai consequentemente nos afastando das pessoas que amamos, e até mesmo o passado sangrento da América Latina.

Vivendo há mais de uma década em Los Angeles, o jornalista e documentarista mexicano Silverio Gama (Daniel Giménez Cacho) está de volta ao seu país de origem para receber um prêmio. Durante a estadia, é fortemente criticado pelos compatriotas por estar vivendo "como os americanos" e ter esquecido suas raízes. Durante a estadia, Silverio vai sobretudo reencontrando velhos desafetos, com quem tem debates calorosos sobre a situação atual do México e o fato de ter deixado sua pátria anos atrás.


O roteiro nos confunde propositalmente em vários momentos, onde não dá para saber se o que está acontecendo é real ou fruto da imaginação do protagonista, salvo algumas exceções onde isso fica bem evidente, como nas cenas em que ele conversa com os pais. O filme ainda tem uma inserção interessante quando Silverio conversa com Hernán Cortés, o conquistador espanhol que destruiu o Império Azteca nos anos 1500, sob uma pirâmide de cadáveres indígenas.
 
Outro ponto interessante é a relação que Silverio tem com seus filhos, Camila (Ximena Lamadrid) e Lorenzo (Iker Sánchez Solano), e sua esposa, Lucia (Griselda Siciliani). Enquanto ele está revisitando memórias e tentando se redescobrir, os filhos estão apenas curtindo a viagem e até mesmo achando enfadonho o tempo ocioso, já que eles não conseguem enxergar o México como terra deles, visto que não viveram ali (no caso de Lorenzo, que nasceu nos Estados Unidos, jamais havia sequer pisado no país). Quando a família está voltando para casa nos Estados Unidos, Silverio é tratado com desprezo pelo funcionário do aeroporto, que diz que ele não tem o direito de chamar os Estados Unidos de lar, mesmo morando no país há anos, e essa é apenas uma das várias críticas que aparecem ao longo do filme a respeito da forma como os norte-americanos enxergam os latinos.
 

Algumas cenas do filme são um verdadeiro deleite visual e estético, como a "cena da dança", em que o protagonista faz uma performance ao som de David Bowie. A transição, a coreografia e o movimento da câmera neste momento são o suprassumo do que podemos chamar de cinema arte. Aliás, que grande atuação de Daniel Giménez Cacho, para mim uma das maiores do ano. Por fim, Bardo é o exercício de um grande diretor em tentar contar sua história de uma forma nada convencional, e eu achei tudo sensacional, dos diálogos às atuações, da fotografia à trilha sonora. Um filme potente, diferente e, sobretudo, artístico.
 

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