sábado, 3 de dezembro de 2022

Crítica: Pinóquio por Guillermo Del Toro (2022)


Ao dar play em "Pinóquio", você pode ter a certeza de que terá pela frente a melhor animação do ano, quiçá uma das melhores da última década. Pois não há uma definição melhor para este filme, que entrou no catálogo da Netflix nesta última semana e está encantando a todos.


O longa começa mostrando o sofrimento do carpinteiro Gepeto, um senhor doce e querido pelos vizinhos que tem a sua vida mudada do avesso após perder o filho único, o menino Carlo, atingido por uma bomba que caiu no vilarejo durante a guerra. Ele não consegue lidar com o luto e passa os dias bebendo em frente ao túmulo, completamente perdido e sem rumo. Em um momento de surto, Gepeto decide cortar um pinheiro que fica próximo do local e usar a madeira para criar um boneco idêntico a Carlo, como forma de homenagem. O que ele não esperava, no entanto, é que por meio de uma fada o boneco ganharia vida e um nome: Pinóquio. 

A partir de então, começamos a acompanhar a relação paternal que surge entre Gepeto e Pinóquio. Enquanto um está aprendendo a superar a dor de uma perda terrível, o outro está recém descobrindo sobre a vida e aprendendo o que é ter sentimentos. É curioso como Pinóquio acaba ficando dividido entre ser ele mesmo ou tentar ser o que Carlo era para agradar Gepeto, e a direção consegue trazer com muita sensibilidade essa incógnita. Além de ouvir Gepeto, Pinóquio também recebe muitos conselhos do grilo falante Sebastião, que vive em seu interior oco.

O diferencial para as demais versões, e também para a obra original, é o contexto histórico em que Del Toro o coloca. O roteiro se passa durante a Itália fascista, comandada por Mussolini (que inclusive aparece de uma forma bem caricata), e isso é possível de ver através dos detalhes, como cartazes nas paredes e discursos inflamados de patriotismo. O próprio Pinóquio acaba sendo aliciado por um oficial do exército, que vê na imortalidade do boneco uma chance de ter um soldado imbatível nas batalhas da Segunda Guerra. No entanto, o antagonismo do filme fica mesmo por conta do Conde Volpe, um aristocrata dono de circo que atrai Pinóquio para fazer dinheiro em cima dele.


Algumas partes me marcaram bastante, como a cena em que Pinóquio é expulso da igreja por ser visto como "algo do demônio" e indaga o porquê do mesmo não acontecer com o Jesus na cruz, que também é feito de madeira assim como ele. Esta é apenas uma das críticas que o diretor inclui no filme, neste caso explicitamente contra a igreja e a sua eterna insistência em tratar algo diferente como "errado".


Del Toro também sempre foi conhecido por ser extremamente detalhista nos visuais de seus filmes e por criar seres fantásticos e únicos, e nesta animação não poderia ser diferente. O trabalho em Stop-Motion é realmente incrível, com destaque para a articulação dos bonecos, os cenários e as cenas feitos no mar. Tudo isso se une ainda a um ótimo trabalho digital, como nas cenas em que a fada aparece, por exemplo. Na parte técnica ainda temos uma trilha sonora maravilhosa, composta pelo grande Alexandre Desplat.



Por fim, uma das mensagens mais importantes que Pinóquio por Guillermo Del Toro passa é a de que devemos dar valor às pessoas enquanto elas estão conosco e aproveitar cada momento como se fosse o último. E apesar de parecer batida, a forma como essa mensagem é trazida a nós é realmente diferenciada. Não à toa, já considero esta a melhor versão feita de Pinóquio para o cinema, superando até mesmo o clássico de 1940.


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