terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Crítica: A Acusação (2022)


Adaptação do romance “Les choses humaines”, da escritora francesa Karine Tuil, A Acusação parte da denúncia de um suposto estupro para mostrar os conflitos que surgem entre os envolvidos, o acusado e a vítima, os familiares dos dois, e a opinião pública estimulada pela mídia.


O filme começa com Alexandre Farel (Ben Attal), filho de um importante jornalista da tv francesa, chegando ao aeroporto de Paris. Ele vive e estuda em Stanford, nos Estados Unidos, e veio passar apenas uns dias no seu país natal. Sua mãe (Charlotte Gainsbourg), uma militante ferrenha dos direitos das mulheres, é quem o acolhe, e no jantar ele conhece o novo namorado dela e sua filha, Mila (Suzanne Jouannet). Os dois acabam saindo para uma festa e no dia seguinte Alexandre recebe a polícia na porta, que o leva para delegacia sob a acusação de ter estuprado Mila na noite anterior.

Dá para dizer que o filme se divide em três partes. A primeira mostra os acontecimentos sob o olhar de Alexandre, enquanto a segunda mostra a visão de Mila, e a direção trabalha muito bem essas duas versões para não ficar repetitivo e ser bem dinâmico. Na terceira parte já estamos no tribunal, onde o júri deve decidir se Alexandre deve ser condenado por estupro ou não, de acordo apenas com os testemunhos, já que não há nenhuma prova do ocorrido.


Ao mesmo tempo que o filme acompanha os depoimentos diante do júri, também vai mostrando através de flashbacks o passo a passo do que ocorreu naquela noite, deixando a cargo de nós espectadores irmos montando a história conforme nossa própria dedução. É interessante a dualidade que o filme causa, pois é difícil saber quem está falando a verdade ou não. É claro que há uma predisposição de acreditar em Mila, até por ela aparentar estar traumatizada com o acontecido, mas ao mesmo tempo vamos percebemos que é plausível o argumento de que tudo não passou de um mal entendido, e que Alexandre pode ser inocente.

Além do acusado e da vítima, o filme também explora bastante a figura dos familiares, principalmente os de Alexandre. O pai é um mulherengo controlador, e mesmo sendo uma figura pública, têm comportamentos totalmente indecentes, inclusive no próprio tribunal, onde fala um absurdo repulsivo na tentativa de defender o filho. A mãe por sua vez vive a controvérsia de sempre ter defendido publicamente uma condenação pesada para crimes de abuso sexual, mas agora precisa lidar com o próprio filho sendo acusado de tal crime.


É um drama que aborda muito bem essa dificuldade de encontrar a verdade, sobretudo quando os envolvidos têm vivências e impressões bem diferentes sobre o acontecimento. Os advogados travam verdadeiras batalhas de argumentos, que muitas vezes acabam até expondo as vidas íntimas, tanto do suposto agressor quanto da vítima, mas a verdade de fato não aparece.


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