domingo, 15 de dezembro de 2013

Recomendação de Filme #47

Nascidos Para Matar (Stanley Kubrick) - 1987

Quando Stanley Kubrick teve a ideia de fazer um filme sobre a Guerra do Vietnã, quase ninguém tinha abordado o assunto nos cinemas, com exceção de Coppola no clássico Apocalypse Now. No entanto, por conta de seu perfeccionismo, a produção demorou tanto para ficar pronta que, quando pronta, já havia sido lançada outra verdadeira obra-prima sobre o confronto: Platoon, do diretor Oliver Stone. Isso, porém, não impediu que o filme se tornasse um clássico, respeitável até os dias de hoje.


Nascido Para Matar (Full Metal Jacket), baseado no livro de Gustav Hasford, ganhou seu espaço e chamou a atenção por ser diferente dos demais. Enquanto Apocalypse Now e Platoon se concentravam no drama vivido nos campos de batalha e na ação, esse mostrava tudo com bom humor e uma crítica ácida, não só sobre o conflito em específico, mas sobre toda e qualquer guerra.

Kubrick já havia filmado sobre a Primeira Guerra (Glória Feita de Sangue, 1957) e a Segunda Guerra (Dr. Fantástico, 1964), e com base nesse histórico, viu no conflito do Vietnã a oportunidade de, novamente, fazer um tratado anti-guerra. O filme se divide em duas partes, que apesar de distintas, não seriam a mesma coisa uma sem a outra.


Na primeira parte (a melhor do filme), que dura cerca de 45 minutos, acompanhamos um grupo de jovens que, após se alistarem no exército, passam por um duro treinamento antes de serem enviados ao Vietnã. Sem créditos iniciais, logo na primeira cena nos deparamos com a raspagem dos cabelos dos personagens que acompanharemos no restante do filme.

A seguir, conhecemos o sargento de artilharia Hartman (R. Lee Remey), que fica responsável pelo treinamento dos recrutas. Ameaçador e desprezível, o sargento literalmente tortura os jovens, tanto física como psicologicamente, gritando impropérios nos seus ouvidos e humilhando-os. O principal alvo dessas humilhações acaba sendo o jovem Pyle (Vincent D'Onofrio), que não consegue se adaptar às rotinas diárias de esforço exigidas pelo comandante.

 
Pyle acaba se tornando o carro chefe dessa primeira parte. Seu olhar, aparentemente inofensivo no início e até mesmo dando indícios de um distúrbio mental, acaba se tornando um olhar quase psicopata, numa desumanização do personagem após sofrer tantos abusos. Fechando a primeira parte, Kubrick nos traz uma cena trágica, de deixar qualquer um sem fôlego, onde nos deparamos com os limites que o ser-humano pode chegar ao viver sob pressão.

A segunda parte é mais visceral, e foca no cotidiano dos mesmos soldados, já formados, após serem enviados enfim ao Vietnã. Kubrick não nos priva de acompanhar de perto, com muita veracidade, todos os absurdos que acontecem numa guerra. Soldados que não tem a mínima vontade de estarem ali, e que matam inimigos simplesmente por obrigação. É a burrice da guerra que nos é jogada na cara, ficando claro o argumento anti-guerra que o diretor quis trazer.


As atuações são impressionantes, sobretudo a de R. Lee Remey. O ator, que interpretou o sargento Hartman, não constava nem no elenco de figurantes, tendo sido contratado apenas para ser conselheiro da produção. No entanto, após uma brincadeira do ator nos bastidores, Kubrick viu nele a verdadeira personificação do personagem, e logo o chamou para compor o elenco. Hoje, olhando o filme, fica impossível imaginar outro no seu lugar.

Em Nascidos Para Matar, o trágico e o cômico andam lado a lado. Um dos filmes de guerra mais inteligentes de todos os tempos, e uma crítica ácida às batalhas bélicas. O tipo de filme que fica marcado para sempre na cabeça de quem assiste.

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