quinta-feira, 22 de maio de 2014

Crítica: Zulu (2014)


O Apartheid, que dividiu a África do Sul em um dos mais brutais regimes raciais vistos na história, já foi tema de inúmeros filmes e livros, que costumam geralmente mostrar a herança histórica e cultural que aquele período deixou em seus habitantes até os dias de hoje. Zulu, do diretor Jerôme Salle, traz mais uma história original sobre o assunto, e chama a atenção principalmente pelo bom enredo e pelo elenco afiado.


Quando garoto, Ali (Forrest Whitaker) viu seu pai ser brutalmente assassinado durante o regime do Apartheid, além de ter sido violentado pelos policiais enquanto fugia da cena. Essa é uma imagem que jamais saiu de sua cabeça, mesmo agora, anos depois. Ele agora é comandante da polícia na Cidade do Cabo, e lidera um grupo de detetives na investigação de um crime violento contra uma jovem mulher. 

A jovem era filha de um famoso treinador da equipe nacional de Rugby, e seu corpo é encontrado na praia local. Ao investigar mais a fundo os indícios encontrados na cena, os policiais acabam tendo que lidar com gente cada vez mais da pesada e sem nenhum tipo de escrúpulos, descobrindo fatos absurdos do passado.


O filme possui cenas pesadíssimas de violência e tortura, e algumas são realmente difíceis de suportar. O diretor consegue recriar com veracidade o clima de tensão existente nas ruas sul-africanas, onde a violência (assim como no Brasil) parece crescer a cada dia. A situação piora quando uma outra jovem é encontrada morta quase no mesmo local e da mesma forma, criando a hipótese de crimes em série.

Do meio para o final algumas surpresas acabam deixando o filme um pouco confuso. Os crimes foram praticados por um grupo que, no passado, estava envolvido em um projeto de limpeza étnica. A droga Tick, que foi utilizada como arma pelo antigo projeto, voltou às ruas, e dessa vez muito mais mortal, e é por intermédio dela que os crimes acabam ocorrendo.


Os personagens são muito bem construídos, tendo cada um sua própria característica. Entre os policiais responsáveis pela investigação está Brian (Orlando Bloom), dono de uma personalidade bastante problemática. Envolvido com o abuso de álcool e mulheres, ele tem que lidar com uma separação conturbada, com a repugnância do filho para consigo mesmo, e com o dia dia pesado do trabalho.

Já Forrest Whitaker, que é para mim um dos melhores atores do cinema americano, comprova mais uma vez que sabe o que faz. Seu personagem traz no rosto marcas de uma vida sofrida, sobretudo pelo que lhe aconteceu na infância, e mesmo assim mostra ter forças para lutar pela segurança do país. Por fim, Zulu não chega a ser um filme para reverenciar, mas também não é filme para se jogar fora. Não à toa, o filme foi escolhido para encerrar o festival de Cannes de 2013, sendo bastante elogiado pela crítica presente no final da exibição.


Um comentário:

  1. Visceral! Nome muito pequeno para um filme com esta grandiosidade, mostra o Apartheid enrustido, ainda em muitos africanos.

    Nilso Frco Carvalho
    Guararapes-SP
    eneefepece@bol.com.br

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