segunda-feira, 5 de junho de 2023

Crítica: Ela e Eu (2023)


Novo filme do paulistano Gustavo Rosa de Moura, Ela e Eu é um drama familiar bastante intimista que chegou a pouco tempo no catálogo da Star+, e fala sobre afeto, sobre amor, mas principalmente sobre as mudanças que ocorrem na vida de todos nós diante da implacável passagem do tempo.


O filme começa com Bia (Andrea Beltrão) entrando em coma logo após dar à luz a sua filha, Carol. Vinte anos se passam, e ela segue no mesmo estado, sendo cuidada diariamente em casa pela própria filha agora adulta (Lara Tremouroux), pelo marido Carlos (Eduardo Moscovis) e por uma cuidadora (Karine Teles). De repente, quando ninguém mais esperava acontecer, ela começa a mostrar sinais de estar acordando do coma, e pouco a pouco vai voltando à sua vida normal, tendo que reaprender todas as coisas básicas novamente, como andar e falar.

O roteiro mostra com delicadeza o choque que um retorno desses é capaz de produzir na família, até porque, por mais que todos torcessem para que isso um dia acontecesse, é inevitável a mudança drástica na vida de todos. A mais afetada com certeza é Renata (Mariana Lima), a nova esposa de Carlos, que faz um esforço para disfarçar que dentro dela existe um misto de piedade e empatia com Bia, mas ao mesmo tempo de raiva e ciúmes, e um medo grande de ser substituída como mãe e como mulher depois de tantos anos. Sentimentos esses que não se pode controlar, e por isso mesmo não dá para considerá-la uma pessoa ruim. Apenas humana.

Andréa Beltrão é o grande destaque do filme, com uma atuação muito sensível e forte. Era imprescindível para uma personagem como Bia, que precisa não só reaprender a viver, como resgatar as memórias do que um dia já foi. Inclusive, uma das cenas mais bonitas do longa é justamente quando ela recorda momentos através de fotos antigas, e o que poderia cair num melodrama bobo acaba sendo um momento muito potente na história. Pois é justamente isso que encanta na personagem: a doçura e o prazer que ela sente nas pequenas coisas que vai redescobrindo com o tempo. Destaco também Mariana Lima, Karine Teles e a jovem Lara Tremouroux, um elenco feminino de peso que não poderia ter sido melhor escolhido.


Gostei como os cenários também são peça importante no filme. Por exemplo, no quarto onde Bia ficou desacordada por duas décadas, é possível ver vários desenhos feitos pela filha quando criança, sempre enaltecendo a mãe ou sonhando com o dia que ela iria acordar, além das fotos de quando Bia era mais nova, que permite que conheçamos quem era ela um pouco mais: aparentemente uma mulher de espírito livre, que tinha uma banda de rock e gostava da vida. O final emociona, e faz pensar bastante no quanto a vida é finita, e devemos aproveitar enquanto é tempo. E por mais que a mensagem pareça piegas, às vezes é exatamente isso que precisamos.


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