quinta-feira, 1 de junho de 2023

Crítica: Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush (2022)


Baseado em uma história real, Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush acompanha Rabiye (Meltem Kaptan), uma mãe que faz tudo que está ao seu alcance para conseguir justiça por seu filho, que se tornou prisioneiro em Guantánamo após ser acusado de envolvimento com o Talibã. Além da forte crítica que faz aos métodos desumanos que os Estados Unidos conduziram as prisões dos acusados de terrorismo, o filme também levanta a questão da xenofobia na Europa, que neste período em especial cresceu exponencialmente.


Na trama, o turco Murat (Abdullah Emre Öztürk) vive com a mãe e os irmãos em Bremen, na Alemanha, até que em um dia simplesmente desaparece. A mãe, preocupada com o sumiço, vai atrás e descobre que ele pegou um avião para o Paquistão junto com o amigo Sedat (Hüseyin Ekici), e que eles supostamente estavam indo se juntar ao Talibã. Não demora para ela descobrir que Murat foi capturado pelas autoridades norte-americanas e está em Guantánamo, a prisão militar em território cubano que ficou mundialmente conhecida após diversas denúncias de violação dos direitos humanos. Para tentar trazer seu filho de volta, Rabiye conta com o apoio do advogado Bernhard Docke (Alexander Scheer), e não deixa nunca de acreditar que o filho é inocente e está preso injustamente, ainda que tudo indique o contrário.

O que está em jogo não é a culpabilidade ou não de Murat, mas a maneira como ele é mantido em um local isolado e sem direito de defesa. Mesmo duas décadas depois, ainda há discussão acerca da jurisdição em Guantánamo, e da maneira como os Estados Unidos impossibilita que os prisioneiros tenham direito a um julgamento justo, alegando que eles são "detentos em campo de batalha" e por isso estão à margem da lei. Diante desta extrema dificuldade em conseguir um mínimo contato com Murat, Rabiye e seu advogado acabam apelando para a imprensa e até mesmo para a Suprema Corte dos Estados Unidos, se tornando também uma espécie de porta-voz de outras tantas famílias que vivem o mesmo drama. Ao mesmo tempo, ela também precisa enfrentar a opinião pública contrária e o governo alemão, que age de forma arbitrária para proibir que ele volte ao país caso seja solto.


Alguns problemas cronológicos em relação aos personagens me incomodaram bastante, como por exemplo a esposa de Murat aparecer apenas dois anos após o sumiço do marido, e como se sempre tivesse estado ali na história. Tem também o pai de Murat, que mesmo morando com Rabiye, só aparece três anos depois na linha do tempo, quando conhece pela primeira vez o advogado do caso. Ele ficou todo esse tempo alheio a tudo, mesmo morando na mesma casa de Rabiye? Outro ponto negativo foi a tentativa de mostrar a protagonista quase como uma ignorante, que não sabe nem direito o que é um tribunal, na tentativa de deixar o filme com um tom leve e descontraído. Por último, quando ela volta pra casa após um tempo fora, as crianças dão a entender que falta tudo em casa, como se tivessem sido abandonadas ali, sendo que o pai estava o tempo todo com eles. Difícil engolir tantos equívocos. Por tudo isso, Rabiye Kurnaz vs George W. Bush infelizmente acaba sendo mais um exemplo clássico de um filme que apresenta um tema super importante, mas que infelizmente acaba não tendo foco e sendo mal conduzido.


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