sexta-feira, 2 de junho de 2023

Crítica: John Wick 4: Baba Yaga (2023)


Lançado de forma despretensiosa em 2014, John Wick aparentava ser apenas mais um filme de vingança e ação como tantos outros que chegam aos cinemas todos os meses e que já saturaram o gênero até o limite. No entanto, a história de um homem que está lidando com o luto e decide se vingar após ter seu cachorro morto foi se destacando dos outros e ganhando cada vez mais fãs com seus próprios méritos, mostrando desde sempre ser um universo diferenciado. Após três filmes e um sucesso estrondoso e inesperado de bilheteria, a saga chega ao seu quarto e melhor filme, que visualmente é uma das coisas mais impressionantes que vi nos últimos anos.


O universo de John Wick é instigante, e é muito interessante ver como o diretor Chad Stahelski foi expandindo-o a cada novo filme. Se no primeiro filme nós tínhamos uma ideia rasa de como funcionava essa sociedade de assassinos profissionais e o que era a Alta Cúpula, agora nós temos uma ideia muito clara de como tudo funciona, e de como esse mundo é administrado de uma maneira estranhamente burocrática. Após John Wick continuar vivo no final do terceiro filme, o prêmio por sua cabeça segue aumentando sem parar no mercado dos assassinatos. Quem se torna o principal antagonista da vez é o Marquês de Grammont (Bill Skarsgard), membro poderoso da Alta Cúpula que está disposto a tudo para matar Wick. Outro personagem que aparece pela primeira vez é o de Shamier Anderson, conhecido como "Sr. Ninguém", que ao mesmo tempo em que caça Wick de forma implacável, também o protege de certa forma, pois sabe que quanto mais tempo ele ficar vivo, maior será a sua recompensa quando finalmente conseguir matá-lo. Outro que está na cola de Wick é Caine (Donnie Yen), um matador deficiente visual que é extremamente carismático e tem como principal motivação a vida da sua filha que corre perigo nas mãos da Cúpula.

O que já tinha ficado subentendido nos filmes anteriores, agora fica ainda mais claro: a ideia cartunesca que faz com que os atos violentos não atraiam a atenção das pessoas comuns, e muito menos da polícia, porque de fato é uma sociedade que se acostumou com isso e naturalizou as mortes. O filme foge da verossimilhança com a realidade, e não se importa com isso, pois esse "absurdo" encaixa perfeitamente dentro dessa atmosfera criada desde o primeiro filme. Dá para perceber isso em vários momentos, como na cena de perseguição automotiva em volta do Arco do Triunfo em Paris, uma das mais impactantes do filme, ou na casa noturna, onde a festa continua normalmente enquanto corpos vão sendo amontoados no chão.

A direção de arte de Kevin Kavanaugh é o ponto alto do filme, e o que faz ele ser tão grandioso e visualmente fantástico. Todos os cenários são majestosos, e cada um com sua própria personalidade, que vai ditando o tom do filme e o que se espera de cada cena. De salões e quartos de hotel luxuosos a subterrâneos sujos, é tudo milimetricamente detalhado. Junto a direção de arte, tem a fotografia de Dan Laustsen, que usa as cores de uma maneira estonteante, incluindo belíssimas cenas tendo como pano de fundo o nascer e o pôr do sol. Mas para mim o grande destaque é a sequência em que John luta com vários homens entre os cômodos de uma casa, e uma câmera área mostra tudo de cima em plano sequência, quase como se fosse um jogo de videogame. Inclusive, segundo o próprio diretor, a sequência foi mesmo inspirada em um jogo chamado "Hong Kong Massacre".


Apesar de haverem boatos de um quinto filme, creio que John Wick 4 encerra com maestria a saga, tendo um final épico e muito bem construído. Porém, conhecendo Hollywood como conhecemos, sabemos que eles não vão querer abrir mão do projeto no momento em que ele encontra o seu ápice. Pois sim, John Wick chega no topo do que um filme de ação pode alcançar com esta quarta parte, e com certeza já entra para a história como uma das sagas mais importantes do cinema.

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