sábado, 10 de junho de 2023

Crítica: Mixed by Erry (2023)


Recém chegado no catálogo brasileiro da Netflix, Mixed by Erry é uma ótima surpresa no meio de tanta história enlatada que surge no serviço de streaming semanalmente. O filme se passa em Nápoles, entre as décadas de 1970, 1980 e 1990, e acompanha os três irmãos Frattasio, Angelo, Giuseppe e Enrico, que enriqueceram fazendo cópias de fitas cassetes e produzindo milhares de discos de maneira pirata.


Enrico (Luigi D'Oriano) desde pequeno sempre foi apaixonado por música, e apesar da dificuldade em chegar as novidades musicais na cidade, fazer amizade com o dono de uma loja de rádios e fitas cassetes ajudou muito ele a estar sempre por dentro de tudo que surgia ao redor do mundo. Os anos se passam e ele segue o sonho de tentar ser DJ, mas enquanto não consegue realizá-lo, segue trabalhando na mesma loja onde cresceu ouvindo suas músicas. Quando o local é fechado, Enrico decide arrumar um dinheiro para comprá-lo junto com os irmãos, a fim de usar o espaço para criar e vender fitas cassetes de acordo com o gosto de cada cliente, uma ideia até então inovadora na região. É aí que surge a "Mixed By Erry", onde eles ganham muito dinheiro produzindo fitas personalizadas para todos na cidade, inclusive com gravações inéditas que ainda nem haviam saído oficialmente.

Não sei até que ponto é verdade ou não, mas o roteiro mostra uma certa inocência por parte dos irmãos, que não viam maldade no que faziam. Inclusive, quando indagado sobre o que os músicos estariam achando disso, Enrico diz que só estava fazendo com que mais pessoas ouvissem as músicas, ou em outras palavras, ele estaria "ajudando" os próprios artistas. De fato não havia uma lei que proibisse o que eles faziam naquela época, e eles souberam usar bem a brecha para escapar da polícia, mesmo que as batidas tenham continuado constantes sob o comando do esquisito Fortunato (Francesco Di Leva). Com o tempo, as gravadoras também se juntam à Polícia Federal Italiana para combater a pirataria, já que os irmãos passaram a ter o impressionante domínio de cerca de 70% do mercado fonológico do país, e é aí que o cerco começa a se fechar de vez.

O filme tem todo o clima nostálgico da época, e da própria cultura das fitas cassetes. A dificuldade que era para conseguir ouvir algum lançamento e a maneira que se gravavam fitas enquanto as músicas tocavam nas rádios, ou até mesmo as declarações feitas em forma de fitas, quando se fazia uma coletânea para alguém especial. Tudo é mostrado com muito carinho pelo roteiro, que também mostra como foi recebido na época o anúncio de uma nova tecnologia que revolucionaria o mundo musical: o CD.


O roteiro acaba sendo uma espécie de "comédia de erros", em que os protagonistas vão se complicando mais a cada novo segundo, e isso faz com o que o ritmo seja bastante ágil. O filme também tem boas atuações, mesmo que algumas sejam desnecessariamente caricatas, e como já é costume em obras que remetem aos anos 70 e 80, o ponto alto acaba sendo a trilha sonora, com alguns dos clássicos que marcaram época e que ajudam, junto com a fotografia, a criar todo o clima saudosista. Por fim, Mixed by Erry é um filme leve, despretensioso, e com uma história que vale muito a pena ser conhecida.


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