segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Crítica: O Tempo e o Vento (2013)


Transcrever para as telas uma obra literária não é fácil, e fica ainda mais difícil quando se trata de um épico histórico como O Tempo e o Vento, que aborda nada menos do que cinco gerações de uma mesma família e as inúmeras guerras que ocorreram durante o longo período. Érico Veríssimo talvez tenha sido o melhor escritor nascido em terras gaúchas. Porém, fora das fronteiras gaúchas o seu nome não é tão reconhecido como merece. E para trazer esse reconhecimento, nada melhor do que uma obra poética, concisa e muito bem dirigida como essa, onde o tempo é o personagem principal.


Confesso que estava receoso de assisti-lo antes de me direcionar ao cinema. Quando vi o nome de Jayme Monjardim na direção, logo pensei que seria um novelão feito para o cinema. Pois bem, se tem algo que me satisfaz nessa vida é ser enganado dessa forma com respeito a filmes. A verdade é que em nenhum momento me senti assistindo a uma novela, muito pelo contrário, o filme possui uma essência própria e original. Subestimei-o e fui surpreendido.

A trama inicia com Bibiana (Fernanda Montenegro) já idosa, à beira da morte, relembrando a história de sua família, junto da aparição de seu falecido marido, o Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda). Sua avó Ana Terra (Cléo Pires) vivia em uma pequena aldeia com seus pais, onde conheceu Pedro, um índio que apareceu pela região ferido de uma batalha. Da relação secreta nasceu um menino, que também foi chamado Pedro, que serviu como desonra para a família e levou a morte do pai da criança. 

Isso foi apenas o começo de uma odisseia pela família Terra, que depois de muitas desgraças acabou se tornando Terra-Cambará, quando Bibiana (filha de Pedro e neta de Ana) se casou com o Capitão Rodrigo Cambará. Aliás, o diretor acertou em cheio ao mostrar toda a gama de personagens através dessa história de amor. Era mesmo preciso centralizar tudo, ou do contrário, não teria como prender o espectador depois de tantas mudanças de rostos.

O que dizer da fotografia? O Rio Grande do Sul é lindo por natureza, e Monjardim soube aproveitar nossas paisagens como ninguém. O cenário é impressionante, e um dos mais incríveis já vistos no cinema nacional. A trilha sonora também é impecável, e fica bastante explícita a influência de outro filme com nome parecido, "E O Vento Levou...". Sim, alguns podem achar loucura, mas as semelhanças entre ambos não pára por aí. E é por tudo isso que o longa poderá ser considerado o clássico definitivo do cinema gaúcho.


Outro ponto interessante são as atuações. Me surpreendeu muito em todos os aspectos, e não vi nenhuma atuação que não mereça elogios. Cléo Pires, Thiago Lacerda e Marjorie Estiano mostram que sabem atuar bem também fora da televisão. Sem falar, é claro, de Fernanda Montenegro, a dama do cinema nacional e a melhor atriz brasileira de todos os tempos.

A única crítica que tenho a fazer é o fato de ser pouca aprofundada a questão das batalhas, e o motivo pelo qual elas existiram. Porém, também penso que se houvesse isso na história, o filme precisaria ter no mínimo 5 horas de duração. Então, a forma compacta caiu bem, e foi de fato muito bem editada.


Por fim, terminou o filme e fiquei com a sensação de ter visto algo único, e com uma única pergunta na ponta da língua: "Por que o Brasil não investe em mais filmes como esse?". Em tempos de filmes vazios de conteúdo, foi uma experiente gratificante ver o cinema lotado e o público satisfeito no final com algo de tamanha qualidade.


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