terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Crítica: 20 Days in Mariupol (2023)


Assim como eu, você que está lendo isso provavelmente nunca teve e nem vai ter a dimensão real do que é vivenciar uma guerra, e temos que agradecer todos os dias por isso. Por mais que alguns digam que vivemos inseridos em uma "guerra diária", por conta da violência urbana, jamais podemos comparar uma coisa com a outra. Acredito que nada pode ser mais desesperador do que ver sua cidade completamente destruída por bombas, seus amigos e conhecidos sendo mortos na sua frente, e não ter para onde correr. Do ucraniano Mstyslav Chernov, 20 Days in Mariupol acompanha um grupo de três jornalistas, incluindo o próprio Mstylav, que registraram de forma brutal o início da invasão russa na Ucrânia em fevereiro de 2022.


Estima-se que o cerco russo na cidade estratégica de Mariupol levou mais de 25 mil pessoas a óbito, e as câmeras mostram isso da forma mais próxima e sufocante possível. Com exceção do desfoque que é dado nos rostos dos mortos, todo o resto é mostrado sem filtro. São inúmeros corpos jogados pelas ruas e enterrados em grandes valas abertas, além de mutilações diversas causadas pelos estilhaços das bombas. Além disso, as filmagens também registram o desespero das vítimas e a angústia dos seus familiares, e todo o esforço conjunto dos profissionais de saúde e dos soldados, que precisam lidar com o caos instaurado e os poucos recursos disponíveis.

Muito se discute sobre o limite do que pode ser retratado em vídeo numa situação como essa, mas eu não vejo de forma alguma o filme como sensacionalista. Pelo contrário, são imagens duríssimas sim, mas que precisam ser mostradas, principalmente para aqueles que ainda acham que uma guerra pode ser divertida igual no videogame. E diferentemente do que a Rússia tentou argumentar, são imagens reais, não são encenações. É o pesadelo de uma guerra mostrado da forma mais crua possível, e justamente por isso dói tanto.


É de se admirar a coragem destes jornalistas, que se mantiveram firmes na linha de frente para registrar cenas que poderiam ter passado batidas, e que só rodaram o mundo por causa deles. Em alguns momentos, foi possível sentir tensão e medo como se eu mesmo estivesse no local, principalmente quando passam aviões no céu e ninguém sabe onde irá cair a próxima bomba. O único ponto negativo foi a narração em off feita pelo jornalista, num tom que ao meu ver não combinou e soou forçado em diversos momentos.

Por fim, 20 Days in Mariupol é acima de tudo um filme denúncia, que se torna ainda mais doloroso se pensarmos que isso está acontecendo agora mesmo, não só na guerra da Ucrânia, mas também em outros conflitos como a guerra entre Israel e Palestina. Assim como em todas as guerras históricas que se tem notícia, quem sofre verdadeiramente com tudo são vidas inocentes, muitas vezes crianças, enquanto os verdadeiros responsáveis estão vivendo em segurança e muito tranquilos por acharem que estão fazendo o certo. E isso causa um sentimento de revolta indescritível.

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