terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Crítica: The Old Oak (2023)


Depois de 57 anos dedicando sua vida ao cinema, o britânico Ken Loach anunciou que The Old Oak infelizmente será o seu último filme da carreira. Aos 87 anos de idade, ele é um dos nomes mais importantes quando se fala em cinema político e de relevância social, e grande parte de sua obra trata justamente dos dilemas da classe operária e da camada mais pobre da população. Inclusive, dois dos seus melhores filmes foram feitos recentemente, onde Loach tratou temas como a burocracia para conseguir uma justa aposentadoria (Eu, Daniel Blake) e a precarização do mercado de trabalho atual (Você Não Estava Aqui). Já em The Old Oak, o ponto central novamente são as desigualdades e as injustiças intrínsecas da sociedade, mas desta vez abordando também a importante e pungente questão da imigração.


Situado em um pequeno vilarejo no noroeste da Inglaterra, o filme inicia com a chegada de uma van no local, que está trazendo refugiados sírios que irão viver no bairro. A presença deles logo desperta a ira de um dos moradores, que imediatamente passa a provocar o grupo e chega a quebrar a câmera fotográfica de Yara (Ebla Mari), uma das refugiadas. Decidida a consertar o objeto que para ela tem muito valor sentimental, Yara pede ajuda para TJ Ballantyne (Dave Turner), o dono do The Old Oak, o único pub ativo da cidade, que imediatamente se mostra solícito com o grupo.

O The Old Oak é conhecido por ser o único local onde o povo local ainda consegue se reunir para conversar, beber uma cerveja e relaxar, mas é também o local onde o proprietário ouve os maiores absurdos xenofóbicos vindos por parte dos moradores. A grande revolta dos locais em relação aos novos vizinhos é reflexo do desalento e da desesperança que eles enfrentam ao viverem há mais de 40 anos esquecidos pelo governo, depois que a mina local que dava sustento à cidade foi encerrada. Veja bem, evidente que há sim sinais de xenofobia e preconceito religioso, mas o que Loach consegue fazer é também trazer o ponto de vista destas pessoas, por mais odioso que ele seja. O que eles não conseguem enxergar é que as pessoas que ali estão refugiadas e recebendo ajuda de organizações não governamentais também são vítimas de sistemas cruéis, além de estarem fugindo de cenários devastadores como a fome e a guerra. E é basicamente sobre esta falta de empatia que o filme discorre, mas também da solidariedade que aflora em outros.


Infelizmente nem tudo são flores neste trabalho de Loach, e o filme me afastou um pouco quando senti que ele queria manipular as emoções do espectador muito mais do que deveria. Há uma necessidade de forçar um choro aqui, outro acolá, e isso acaba atrapalhando o desenrolar da história. As atuações também me pareceram um tanto superficiais, deixando com que o filme caísse no marasmo muito cedo. A mensagem está ali e não deixa de ser importante, mas longe de ter a mesma força que já foi possível ver em outros filmes do diretor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário